(Realizar eleições regionais em plena pandemia, com os
famigerados rebrotes a dar cabo da cabeça de governantes nacionais e regionais,
é obra difícil. Mas os votos em democracia são sempre clarificadores, embora a
situação política espanhola global pareça querer contradizer esse princípio tamanha
foi a confusão política para criar um governo. Embora sem surpresas, os resultados das eleições galegas e bascas trazem
confirmações que vale a pena recordar, para memória futura claro está e como é
timbre deste blogue.
Comecemos pelas eleições galegas nas quais Nuñes Feijoo alcançou a sua
quarta maioria absoluta, do tipo “vou-me aguentando mesmo que à minha volta as
coisas vão mudando e os protagonistas também”. A principal implicação do
resultado obtido por Feijoo é seguramente de âmbito nacional, por mais
paradoxal que isso possa parecer. A vitória do líder galego mostra que um
estilo de governação mais sóbrio, sem deixar de ser firme, em que o PP deixa de
ter comportamentos reativos e irrefletidos por força da sombra do VOX, parece
ter um apoio mais sólido do eleitorado. Dir-me-ão que os galegos são galegos e
que na Galiza o VOX não tem expressão e por isso Feijoo pode aspirar a esse
outro modelo de estar na política e na governação. A esses responderei que não
será por acaso que o VOX não tem expressão na Galiza e que isso é devido
precisamente ao estilo de governação de Feijoo. Poderemos também avançar que a
relativamente bem-sucedida gestão sanitária e política da pandemia da Galiza
terá suprimido qualquer veleidade de alternativa política a Feijoo e aí terei
de admitir que sim que isso terá contado e não será por isso que vou desdenhar
dos vizinhos galegos. Fizeram muito bem sobretudo depois de terem cotejado tal
prestação com o que passava pelas bandas de Madrid e de Barcelona.
Mas as eleições galegas trouxeram outros resultados não menos
interessantes. O nacionalismo galego, embora renovado e agora focado nas gerações
mais jovens, afinal existe e através do desempenho de Ana Pontón do BNG
redobrou de ânimo a ponto de se transformar na segunda força política galega.
Trata-se de evolução a seguir com atenção para verificar se há aqui algo mais
do que a presença carismática de Ana Pontón. Ao ressurgimento do BNG
corresponde quase simetricamente a convicção de que o PSOE galego, o PSG, tem a
sua massa eleitoral regional esgotada. Claro que a prestação política do
governo de Sánchez não ajudou e até uma avaria em avião afastou Sánchez do
último comício do PSOE na região. Mas não me parece que haja propriamente um
voto de protesto pelas cabriolas da aliança com o PODEMOS na governação nacional.
A liderança de Gonzalo Caballero não é daquelas que entusiasme por aí além sobretudo quando
confrontada com a fibra de Pontón e imagino que ainda não é desta vez que o PSOE estabiliza
a sua liderança na região. O feudo de um outro Caballero, o por vezes
irrascível Abel de Vigo, o Rui Moreira que o diga, restará praticamente a única
presença relevante do PSOE na região, sendo discutível que não seja mais um
projeto pessoal.
Mas a conclusão mais importante é o desaparecimento do Parlamento galego
das incursões políticas mais à esquerda, através das quais o PODEMOS se depara
com mais uma fritura em fogo lento que vai decretando a sua progressiva
irrelevância política. As Mareas estão totalmente mareadas e o velho Beiras vai
afastar-se dos holofotes políticos galegos com a amargura de ter inspirado um
saco de gatos dos mais difíceis de amansar. O que mostra tudo isto é que
formações políticas coladas com o cuspo mediático e mimetismo político em torno
de causas fraturantes não chegam para gerar soluções políticas consistentes e
robustas. Os que resistirem à “débacle” têm de entreter-se com a militância local
porque nos próximos tempos andarão à míngua de espaços de intervenção política
regional.
Claro que há interrogações. Vai começar Feijoo a pensar em protagonizar uma
aventura pelos caminhos da chegada do PP ao poder? Vai o BNG assumir-se como a
oposição galega? Ou estará interessado em discutir com o PSOE (depois deste
clarificar o que quer fazer da vida) condições e rumos para preparar uma alternativa
a prazo de governação para a região? Se for este o rumo, que duvido, que
estudem bem o desastre total da governação PSOE-BNG nos tempos de liderança do
Professor Touriño.
Quanto às eleições bascas ainda menos novidades trouxe. O PNV (Partido
Nacionalista Basco) continua a ser a força política maioritária, que se deve essencialmente
ao seu poder negocial, com condições para continuar a governar com apoio do
PSOE, apesar da subida dos já nacionalistas mais radicais do BILDU. Mas em meu
entender o sentimento mais profundo dos bascos compreende que com o PNV
dificilmente uma aventura do tipo da catalã seria possível. As consciências
continuam limpas, os negócios já internalizaram este tipo de nacionalismo mais
soft sem deixar de ter poder reivindicativo e negocial e assim se vai aprofundando
a autonomia.
Errata
Corrigido em 14.07.2020: "e imagino que ainda não é desta vez que o PSOE estabiliza a sua liderança na região"
Errata
Corrigido em 14.07.2020: "e imagino que ainda não é desta vez que o PSOE estabiliza a sua liderança na região"
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