segunda-feira, 27 de julho de 2020

E AÍ VAMOS DE NOVO?



(Esperava não voltar a escrever tão cedo sobre a pandemia, a não ser sobre o que ela pode representar do ponto de vista das macrotendências de indeterminação do nosso futuro. Mas a confirmação de alguns aspetos evolutivos que eu próprio tinha antecipado no quadro de uma situação mundial que a cada momento se agrava justifica o regresso à vil matéria.

O mapa que descreve a dinâmica de novos surtos em Espanha (que agora vê também comprometida a ilusão dos corredores aéreos com os ingleses) terá constituído o motivo próximo desta crónica. Mas a razão mais profunda deriva de um aspeto que, por repetidas vezes, sublinhei em crónicas anteriores. Uma pandemia como a que vivemos tem necessariamente um comportamento evolutivo que não é sincrónico. Ou seja, como se trata de algo que acaba por percorrer praticamente todos os países do mundo e como os níveis de interação entre os países acontecem em momentos e com intensidades diferentes, a intensidade de disseminação da pandemia vai ela própria variando geograficamente. O que significa que, para níveis ainda que moderados de fluxos de pessoas entre países e entre continentes, que o diga a situação do transporte aéreo, praticamente nenhum país está a salvo de qualquer eventualidade de reinício de contágios com maior celeridade.

A hipótese de contágio por via de casos importados tende, assim, a coexistir com surtos internos ainda não totalmente debelados gerados por imprevidências e quebras de segurança ou, nos casos mais problemáticos, por uma ainda insuficiente deteção de assintomáticos com capacidade de disseminação viral.

A situação global em Portugal corresponde à que tinha projetado, traduzida pela oscilação de taxas de crescimento de novos casos confirmados entre 0,5 e 1%, pontualmente contrariado por taxas de crescimento superiores a 1 e inferiores a 0,5%. O que não tinha antecipado era a situação de algum descontrolo que chegou a verificar-se na grande aglomeração de Lisboa, corrigido depois com reforço consideráveis de meios de intervenção, com prolongamento em muito menor escala pelo Oeste e pelo Médio Tejo, em linha com os fluxos conhecidos de interconexão com a aglomeração metropolitana.

Muito provavelmente será este padrão evolutivo que chegará até à reabertura das escolas (o primeiro grande embate que teremos nesta matéria e que exigirá de professores e das famílias com jovens em idade escolar uma prova significativa de organização e segurança) e depois ao início do outono-inverno com todas as consequências antecipáveis e que só uma vacinação em massa e atempada contra a gripe sazonal poderá minimizar.

Aparentemente, quase um mês após a reabertura das fronteiras terrestres com a Espanha, não existe evidência de que tal reabertura tenha provocado um número significativo de casos importados. Mas o quadro evolutivo espanhol inspira cuidados (6.361 infetados em três dias). Pelas bandas da Galiza a situação parece estar controlada o que sossega este vosso amigo em passo acelerado para umas férias merecidas e tão descontraídas quanto possível por terras de Seixas e Caminha na confluência do Coura e do Minho.

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