(Esperava não voltar a escrever tão cedo sobre a pandemia,
a não ser sobre o que ela pode representar do ponto de vista das macrotendências
de indeterminação do nosso futuro. Mas a
confirmação de alguns aspetos evolutivos que eu próprio tinha antecipado no
quadro de uma situação mundial que a cada momento se agrava justifica o
regresso à vil matéria.
O mapa que descreve a dinâmica de novos surtos em Espanha (que agora vê
também comprometida a ilusão dos corredores aéreos com os ingleses) terá
constituído o motivo próximo desta crónica. Mas a razão mais profunda deriva de
um aspeto que, por repetidas vezes, sublinhei em crónicas anteriores. Uma
pandemia como a que vivemos tem necessariamente um comportamento evolutivo que
não é sincrónico. Ou seja, como se trata de algo que acaba por percorrer
praticamente todos os países do mundo e como os níveis de interação entre os
países acontecem em momentos e com intensidades diferentes, a intensidade de
disseminação da pandemia vai ela própria variando geograficamente. O que
significa que, para níveis ainda que moderados de fluxos de pessoas entre
países e entre continentes, que o diga a situação do transporte aéreo, praticamente
nenhum país está a salvo de qualquer eventualidade de reinício de contágios com
maior celeridade.
A hipótese de contágio por via de casos importados tende, assim, a coexistir
com surtos internos ainda não totalmente debelados gerados por imprevidências e
quebras de segurança ou, nos casos mais problemáticos, por uma ainda
insuficiente deteção de assintomáticos com capacidade de disseminação viral.
A situação global em Portugal corresponde à que tinha projetado, traduzida
pela oscilação de taxas de crescimento de novos casos confirmados entre 0,5 e 1%,
pontualmente contrariado por taxas de crescimento superiores a 1 e inferiores a
0,5%. O que não tinha antecipado era a situação de algum descontrolo que chegou
a verificar-se na grande aglomeração de Lisboa, corrigido depois com reforço
consideráveis de meios de intervenção, com prolongamento em muito menor escala
pelo Oeste e pelo Médio Tejo, em linha com os fluxos conhecidos de interconexão
com a aglomeração metropolitana.
Muito provavelmente será este padrão evolutivo que chegará até à reabertura
das escolas (o primeiro grande embate que teremos nesta matéria e que exigirá de
professores e das famílias com jovens em idade escolar uma prova significativa
de organização e segurança) e depois ao início do outono-inverno com todas as
consequências antecipáveis e que só uma vacinação em massa e atempada contra a
gripe sazonal poderá minimizar.
Aparentemente, quase um mês após a reabertura das fronteiras terrestres com
a Espanha, não existe evidência de que tal reabertura tenha provocado um número
significativo de casos importados. Mas o quadro evolutivo espanhol inspira
cuidados (6.361 infetados em três dias). Pelas bandas da Galiza a situação
parece estar controlada o que sossega este vosso amigo em passo acelerado para
umas férias merecidas e tão descontraídas quanto possível por terras de Seixas
e Caminha na confluência do Coura e do Minho.
Sem comentários:
Enviar um comentário