domingo, 5 de julho de 2020

E LÁ SE FOI A GESTÃO PRUDENCIAL!



(A Texas Medical Association acaba de publicar um mapa de atividades de risco em matéria de COVID-19, cobrindo coisas que podemos fazer assumindo riscos do mais baixo possível ao mais elevado. É um estilo de comunicação simples e eficaz só não acessível a daltónicos e estou certo que haverá uma alternativa para compensar essa fragilidade. Curiosamente, a TMA considera que ir a um bar constitui neste momento a atividade de maior risco. Sem surpresa, a reabertura dos bares na noite de ontem no Reino Unido provocou como seria de esperar a maior das desbundas, em si assustadora e, cá para mim, se estivesse no lugar do turismo algarvio agradeceria de mãos no céu a dádiva do UK não nos ter concedido o estatuto de corredor.

Todos se recordam que defendi o relativo êxito com que Portugal geriu a primeira fase da pandemia (o confinamento atempado) resultou de uma consistente relação entre decisão política, conhecimento científico e autoridades hospitalares, com a gestão prudencial a pairar consistentemente sobre essa relação. O facto de termos desconfinado mais depressa do que aqueles que estávamos a seguir com um desfasamento temporal prudente precipitou a não continuidade desta combinação virtuosa e, como coloco em título, lá se foi a gestão prudencial. A pressão da abertura começou a aparecer de todos os lados e resolvemos abandonar a gestão prudencial de irmos aprendendo com a evolução dos que foram atingidos mais cedo. Poderia ter corrido bem, mas os dados de Lisboa vieram perturbar esse equilíbrio e, como é nosso timbre, quando isso acontece as fragilidades organizacionais vêm sempre ao de cima e, para mal dos nossos danos, há poucos Filipes Froes. António Costa não pode assobiar para o lado pois entrou de vontade própria na estratégia de desconfinar antes dos outros que tínhamos antes seguido com vantagem. E Marcelo também não fica bem na fotografia, pois alinhou com o discurso dominante.

A pressão descendente sobre a Ministra da Saúde saltou cristalina para todos a ponto de a forçar a proclamar sabe-se lá com que sapiência que os casos detetados em Lisboa não estavam ligados à sobrelotação dos transportes, sobre a qual o Governo contrapôs médias a valores reais de algumas horas. Ó minha santa, não havia necessidade.

Portugal precisava de uma estratégia comunicacional assente em documentos como o da Texas Medical Association. Neste momento, precisávamos de um confronto explicativo sério e objetivo entre os não casos do coração metropolitano do Porto (Porto, Matosinhos, Gondomar e Maia, já que para minha preocupação Vila Nova de Gaia não está estabilizada) e a vivacidade do coração metropolitano de Lisboa. 

Já agora fiquei chocado com as imagens da abertura dos bares ontem no Reino Unido, sucedendo-se às também esclarecedoras imagens de algumas praias inglesas no último fim de semana. Não por caso, os bares são a atividade de risco máximo na escala da TMA. Talvez tenha sido positivo os ingleses se terem borrifado para o nosso orgulho na decisão da UEFA. O Algarve talvez agradeça no futuro essa decisão, apesar do desemprego.

Sem comentários:

Enviar um comentário