Recupero aqui as gordas das arrasadoras eleições municipais em França. Sinteticamente, assim suscetíveis de descrição: Emmanuel Macron num esforço continuado mas a sofrer uma fortíssima perda, a esquerda de volta (com Anne Hidalgo a repetir folgadamente Paris, o que não parecia evidente) mas largamente à custa de um dominante voto alternativo (ecológico e verde), o primeiro-ministro Édouard Philippe a vencer na sua mairie (Le Havre) mas a ser inesperadamente sacrificado à imperiosa necessidade de um redressement do Presidente, Jean Castex a surgir como o premiado sucessor (muito em virtude do seu papel no recente desconfinamento do país) mas a ser encarado como um elemento sobretudo instrumental da derradeira tentativa de Macron para, en marche, vir a conseguir repetir o sucesso de 2017. Duas curiosidades pouco simpáticas, ainda: a vitória do movimento de Le Pen em Perpignan e a brutalidade de um abstencionismo que não provém apenas, nem talvez essencialmente, das implicações da crise pandémica (veja-se, abaixo, a tendência das últimas seis décadas). E a França a continuar a ser, afinal, o terreno em que melhor se exprime na Europa um grau significativo de experimentalismo social e político – mesmo que à custa de vários anacronismos e das correspondentes instabilidade e perigosidade.
(cartoons de Bernhard Hortrop, “Willem“, https://www.liberation.fr)
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