segunda-feira, 20 de julho de 2020

O CONSELHO NÃO DORME...

(Patrick Lamassoure, Monsieur Kakhttp://www.lopinion.fr)

Muita coisa mudou neste fim de semana europeu. Os chefes de Estado e de Governo iam para dois dias de reunião presencial e já vão em mais duas noites; o que é o menos. O mais é o que vamos vendo projetado no fácies do nosso primeiro-ministro e em algumas das declarações em que não consegue ser tão prudente e ponderado quanto a sua condição aconselharia. Tudo somado, os supostos líderes lá continuam – as reuniões gerais, bilaterais e de outras geometrias prosseguem a esta hora! –, esgrimindo os seus melhores ou mais criativos argumentos em torno de números, que sempre vão dando para reinvenções sucessivas, e de concessões inaceitáveis, que o estado de necessidade talvez venha a fazer tragar.

Dois aspetos ficam mais uma vez claros: por um lado, que somos escandalosamente dependentes deste humilhante jogo e que não deveríamos continuar a deixar-nos ficar integralmente à sua mercê; por outro lado, que não é normal nem saudável um projeto inter-nacional cuja ambição e avanços sejam absolutamente limitáveis por um dos membros do clube (no caso, uma Holanda que vale 5,8% da riqueza produzida na União, valor este que ascende a 8,7% se lhe somarmos a Áustria, a 14,3% se juntarmos Suécia e Dinamarca e a 16% se considerarmos ainda a recente aquisição frugal da Finlândia, tudo isto atendo-nos apenas à questão do peso económico e não se querendo por ora acolher avaliações valorizadoras da realidade democrática em presença e de outras dimensões qualitativas passíveis de serem justificadamente trazidas à colação).

Um desabafo mais, a terminar: lá vamos nós ter de refazer as planeadas intenções que nos iam finalmente conduzir à tão desejada “modernidade”. Sendo certo que é sempre mais cómodo que continuemos incorrigivelmente a esperar que os meios do nosso disfarce desenvolvimentista nos sejam recorrentemente servidos do exterior numa bandeja adequada à solenidade da ocasião, porque não fazermos da negrura do horizonte e da incerteza da subsidiação um estimulo a que nos dediquemos a esforços de foco e organização no sentido de uma real mudança interna de quase tudo quanto precisamos vitalmente de mudar na nossa vida coletiva?

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