(Vasco Gargalo para o Correio da Manhã - Oh como estou tolerante!)
https://www.facebook.com/vasco.gargalo/posts/a-bajula%C3%A7%C3%A3o-cartoon-editorial-da-revista-de-domingo-do-correiodamanhaoficial-tru/10162583697349584/
(Anda por aí uma corrente apostada em introduzir na diplomacia económica externa uma nova maneira de estar e de fazer. Segundo esta deplorável inteligência, a bajulação de um líder autoritário, imprevisível e especialista no mais declarado bullying político e comercial deve ser considerada uma estratégia louvável de diplomacia. Estou obviamente a referir-me à posição de alguns líderes europeus que inventaram esta boutade para racionalizar a sua posição de servilismo declarado face à agressividade de Trump e da administração americana que lhe segue as pisadas, não sabendo como descalçar a bota de o terem eleito contra todas as antecipações fundamentadas que se fartaram de alertar para essa possibilidade. Não sabendo descalçar a incómoda bota esses líderes decidiram que lamber as botas do dito cujo seria uma manobra diplomática pragmática, uma espécie de mal menor face a outras alternativas. Claro que um servilismo desta natureza, transformando-o em pragmatismo diplomático não poderia escapar ao olhar atento de alguns analistas como o é por exemplo o sempre esclarecido Martin Sandbu do Financial Times.)
O que estes inteligentes de meia tigela não se apercebem é que uma reação de complacência como a da bajulação coloca a imprevisibilidade em níveis cada vez mais elevados, que é em boa medida a circunstância mais temida pelos agentes económicos. A orquestra dos bajuladores teve em Mark Rutte da NATO o principal ensaiador, mostrando despudoradamente aos restantes líderes europeus como é que se faz. A enorme confusão entre bajulação e negociação é de bradar aos céus. Uma das regras básicas do combate ao bullying é a de que o agente ativo não pode ser tratado com condescendência pois a fraqueza é farejada à distância pelo mesmo.
De facto, a ideia de que a bajulação substitui a negociação inteligente é bizarra e peregrina, além de que respira oportunismo por todos os poros. A ideia é a de quem bajula mais pode disso beneficiar com concessões mais generosas, o que é uma forma descarada de oportunismo.
O artigo de Sandbu no Financial Times tem, porém, um título equívoco, pois “A Europa está a vendar a alma a Trump” parte enganosamente do princípio de que a Europa tem uma alma. O “Eu” europeu está há muito tempo fraturado, devendo ser tratado no divã.
O que me parece lamentável é que os pragmáticos da bajulação não compreendam que praticá-la para o exterior vai conduzir as instituições europeias a tratar os Amigos ou os Fascinados por Trump da mesma maneira. A ideia de que se pode ser servil para fora e destemidamente implacável para dentro é uma enormidade.
Por isso e em resumo, a bajulação de Trump não é mais do que a expressão de uma forma ainda mais avançada e irreversível da decomposição europeia. É com isso que teremos de viver nos tempos mais próximos.






