(O governo de António
Costa, designadamente a sua equipa das Finanças, conseguiu algo de espantoso; desbaratou politicamente um mar imenso de
culpas no cartório da governação PAF no que respeita ao sistema bancário e
financeiro)
As vozes mais razoáveis
e independentes são unânimes em conceder que o governo de António Costa herdou
presentes envenenados que baste do governo anterior em matéria de sistema bancário
e financeiro. Inação, chico-esperteza da ministra Maria Luís, intenções ocultas
de privatização, enfim um rol imenso de incompetências governativas, ocultas naquela
ideia peregrina de que o governo PAF não tinha de intrometer-se em tais questões.
Com o reconhecimento
desta pesada e não inocente herança, o governo de Costa teria de revelar competência
quanto baste, pois a complexidade dos problemas jogaria sempre a seu favor, acaso
essa demonstração de competência de intervenção fosse rigorosa e atempada. Pois,
pelo andar da carruagem, tudo indica que a equipa das Finanças de Costa e ele próprio
terão desbaratado esse capital de desresponsabilização num abrir e fechar de
olhos. E já dou de barato o caso Banif. Basta o dossier da Caixa Geral de Depósitos para compreender que ele se
tornou a besta negra da governação atual, o que é tanto mais surpreendente quanto
a abordagem inicial do governo ao problema da Caixa parecia revelar um
contraponto positivo à inação comprometedora do governo PAF. Em primeiro lugar,
o período de não comunicação com a administração de Álvaro do Nascimento e José
de Matos é incompreensível, pois corresponde a uma dose de inação que constituía
precisamente o aspeto da governação PAF que o governo de Costa pretendia combater.
Em segundo lugar, a confiança manifestada no “deus” António Domingues para conduzir
a questão da capitalização terá saído muito cara ao executivo, pois as reivindicações
sucessivas da personagem e os resultados da negociação com as autoridades europeia
e BCE mostraram que afinal Domingues é um daqueles casos de cláusula de rescisão
estupidamente elevada. Finalmente, não queria acreditar, mas afinal é verdade,
que a não aprovação por parte do BCE de oito dos dezanove administradores
indicados se deve a um incumprimento de lei portuguesa, que o papagaio Secretário
de Estado Mourinho se apressou a considerar demasiado restritiva e incompatível
com as empresas modernas. Desculpem mas quando ouço personagens PS a invocar a
modernidade das empresas fico logo com irritação de pele. Nunca consegui perceber
a questão dos 19 administradores. Ou bem se confia nos administradores
executivos propostos e nesse caso qual a razão para se convidar empresários que
o melhor que sabem fazer é conduzir os seus negócios para fiscalizar os tais
executivos em que pressupostamente se confia? E o convite a Leonor Beleza a que
lógica de racionalidade corresponde? Será que o governo quis afagar alguns
setores empresariais? Porquê estes e não outros?
Mas mais preocupante do que
tudo isto não vislumbrei ainda uma ideia que fosse sobre o papel de uma Caixa
capitalizada e esperemos que finalmente e pelo menos em matéria de recapitalização
a solução seja acertada. Será que a Caixa se vai concentrar no apoio aos
transacionáveis, num contexto em que o crédito concedido a este tipo de
atividades é ainda exasperadamente baixo? Que espaço de diferenciação vai a
Caixa prosseguir no sistema bancário português? Com uma resposta consistente a
estas questões ficaria mais confortável em aceitar uma recapitalização para além
das imparidades mais visíveis.
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