sábado, 20 de agosto de 2016

A CAIXA (NEGRA) DA GOVERNAÇÃO




(O governo de António Costa, designadamente a sua equipa das Finanças, conseguiu algo de espantoso; desbaratou politicamente um mar imenso de culpas no cartório da governação PAF no que respeita ao sistema bancário e financeiro)

As vozes mais razoáveis e independentes são unânimes em conceder que o governo de António Costa herdou presentes envenenados que baste do governo anterior em matéria de sistema bancário e financeiro. Inação, chico-esperteza da ministra Maria Luís, intenções ocultas de privatização, enfim um rol imenso de incompetências governativas, ocultas naquela ideia peregrina de que o governo PAF não tinha de intrometer-se em tais questões.

Com o reconhecimento desta pesada e não inocente herança, o governo de Costa teria de revelar competência quanto baste, pois a complexidade dos problemas jogaria sempre a seu favor, acaso essa demonstração de competência de intervenção fosse rigorosa e atempada. Pois, pelo andar da carruagem, tudo indica que a equipa das Finanças de Costa e ele próprio terão desbaratado esse capital de desresponsabilização num abrir e fechar de olhos. E já dou de barato o caso Banif. Basta o dossier da Caixa Geral de Depósitos para compreender que ele se tornou a besta negra da governação atual, o que é tanto mais surpreendente quanto a abordagem inicial do governo ao problema da Caixa parecia revelar um contraponto positivo à inação comprometedora do governo PAF. Em primeiro lugar, o período de não comunicação com a administração de Álvaro do Nascimento e José de Matos é incompreensível, pois corresponde a uma dose de inação que constituía precisamente o aspeto da governação PAF que o governo de Costa pretendia combater. Em segundo lugar, a confiança manifestada no “deus” António Domingues para conduzir a questão da capitalização terá saído muito cara ao executivo, pois as reivindicações sucessivas da personagem e os resultados da negociação com as autoridades europeia e BCE mostraram que afinal Domingues é um daqueles casos de cláusula de rescisão estupidamente elevada. Finalmente, não queria acreditar, mas afinal é verdade, que a não aprovação por parte do BCE de oito dos dezanove administradores indicados se deve a um incumprimento de lei portuguesa, que o papagaio Secretário de Estado Mourinho se apressou a considerar demasiado restritiva e incompatível com as empresas modernas. Desculpem mas quando ouço personagens PS a invocar a modernidade das empresas fico logo com irritação de pele. Nunca consegui perceber a questão dos 19 administradores. Ou bem se confia nos administradores executivos propostos e nesse caso qual a razão para se convidar empresários que o melhor que sabem fazer é conduzir os seus negócios para fiscalizar os tais executivos em que pressupostamente se confia? E o convite a Leonor Beleza a que lógica de racionalidade corresponde? Será que o governo quis afagar alguns setores empresariais? Porquê estes e não outros?

Mas mais preocupante do que tudo isto não vislumbrei ainda uma ideia que fosse sobre o papel de uma Caixa capitalizada e esperemos que finalmente e pelo menos em matéria de recapitalização a solução seja acertada. Será que a Caixa se vai concentrar no apoio aos transacionáveis, num contexto em que o crédito concedido a este tipo de atividades é ainda exasperadamente baixo? Que espaço de diferenciação vai a Caixa prosseguir no sistema bancário português? Com uma resposta consistente a estas questões ficaria mais confortável em aceitar uma recapitalização para além das imparidades mais visíveis.

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