(Ao contrário do
observado na primeira investidura falhada de Rajoy, em que vislumbrei como
clara a realização de segundas eleições, não me atrevo a vaticinar o que quer que seja com a segunda tentativa
de investidura marcada para fins de agosto)
A situação política espanhola corre o risco
de se transformar num caso de estudo sobre impasses políticos em democracia. Os
tempos estão marcados e integram esta sequência: a 30 e 31 de agosto debate-se
no congresso de deputados a investidura de Rajoy onde uma maioria absoluta é
necessária; a 2 de setembro repete-se o debate, agora com carência apenas de
maioria simples; de 9 a 25 de setembro decorrem as eleições regionais na Galiza
e no País Basco; caso não haja investidura, em novembro iniciam-se os preparativos
eleitorais que culminarão em terceiras eleições gerais em 25 de dezembro.
Por estes dias, decorrem apenas negociações
entre PP e o CIUDADANOS. O PSOE mantém a sua posição de não votar positivamente
a investidura de Rajoy, admitindo implicitamente que o PP, culminado o acordo
com o CIUDADANOS, poderá junto de forças regionalistas obter apoios para uma
maioria simples no Congresso de Deputados. Dificilmente antes dos resultados
das eleições na Galiza e no País Basco o PSOE admitirá rever a sua posição. Pelas
bandas do PODEMOS (incluindo o seu acordo pré-eleitoral com a IZQUIERDA UNIDA),os
ares já foram mais favoráveis. A formação de Pablo Iglésias tem perdido notoriedade
e perdeu inclusivamente força de representação eleitoral nos acordos pré-eleitorais
realizados para as eleições na Galiza, em que se dilui a sua presença no
movimento MAREA que aspira a alguma representatividade eleitoral, ganhas que
foram as principais cidades galegas.
O lio criado é enorme e não se vislumbra sagacidade
política para o desnovelar. Um exemplo dessas contradições e paradoxos é o facto
do PSOE basear a sua posição de não votar a investidura de Rajoy no seu acordo
realizado em fevereiro com o CIUDADANOS, num jogo de sombras de verdadeiro
manual. Por seu lado, aparentemente em posição favorável de interface entre o
PP e o PSOE, a formação de Rivera (CIUDADANOS) parece não capitalizar eleitoralmente
esse estatuto. A única força política que parece beneficiar da realização de
terceiras eleições é o PP, que permanece entretanto ensanduichado entre duas
situações: por um lado, a situação macroeconómica é-lhe favorável e, por outro,
os casos de corrupção com participação direta de personalidades PP sucedem-se nos
tribunais e o período da tentativa de nova investidura vai ser bastante robusto
em casos agendados. Uma dezena de casos iniciará julgamentos, entre os quais os
casos Gürtel e os cartões de crédito de Rodrigo Rato, todos com presença de testemunhas
de altos cargos do PP, incluindo ex-secretários gerais. Essa onda é tão
prolixa, que as negociações de CIUDADANOS e PP só puderam ser iniciadas com a
imposição pela primeira de um pacto de anti-corrupção que Rajoy se viu forçado
a aceitar.
De toda esta situação, paradoxalmente, a
situação mais frágil continua a ser a do PSOE, que dificilmente melhorará o seu
resultado eleitoral em terceiras eleições. Aliás, continuo a não entender a sua
posição, tanto mais que declaradamente, o PODEMOS não é claramente o equivalente
de PCP e Bloco de Esquerda em Portugal. Travado à esquerda pela ausência de condições
para acordos credíveis e não colocando condições firmes para uma simples
abstenção à investidura de Rajoy com apoio CIUDADANOS, o risco de ficar à deriva,
num mar de irrelevância é enorme. Pelo que vou colhendo de impressões entre os
meus amigos galegos, o PSOE galego afundar-se-á nas próximas eleições de 25 de
setembro e não creio que no País Basco os resultados, embora potencialmente
melhores, sejam de conforto e perspetivas favoráveis para uma eventual concretização
do 25 de dezembro.
Entretanto, em sondagem do El MUNDO, 55% dos
votantes do PSOE declara preferir a eleição de Rajoy à eventualidade de terceiras
eleições. Pedro Sánchez tem veraneado pela costa espanhola (está no seu direito
como qualquer mortal) e a palavra “chiringuito” é usada com violência por um
jornalista do mesmo jornal: “Que Pedro Sánchez gosta de chiringuitos não parece
haver dúvidas. Especialmente ao longo de um verão em que não se privou de mostrar
a sua presença na praia ao longo da costa espanhola. E não é que não tenha a
isso direito, evidentemente que o tem, mas talvez fosse recomendável que o fizesse
sem privar o seu partido do congresso que se impunha (diferiu-o contra
estatutos), sem Comité Federal (os representantes das Federações Socialistas não
podem nem criticar nem apoiar) e sobretudo sem deixar a Espanha sem presidente durante
oito meses de apagão governativo” (Carlos Cuesta, ver link aqui).
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