(Do especial de
verão publicado pelo Observador sobre o caso Marquês, e particularmente sobre o
testemunho de Paulo Azevedo, SONAE, mais do que os desenvolvimentos em torno do caso Sócrates, retiro
matéria para uma pergunta perturbadora)
Já aqui referi que os
mais recentes desenvolvimentos da comunicação social sobre a operação Marquês
têm colocado a investigação no centro do que penso ser a dimensão mais marcante
do atribulado desenvolvimento do capitalismo português na primeira década do
novo milénio, as relações de desagregação entre o BES e o universo da PT. E
estou a dizê-lo não na perspetiva da acusação a Sócrates tout court, mas exclusivamente na informação que o caso apresenta
para situar as derivas do capitalismo português nesse período e o que ele traz
de potencial informação para compreender as derivas dos sistemas bancário e
financeiro português. Do que o caso sugere de ilusão em torno da construção de
um grupo global a operar a partir de Portugal já falei noutra oportunidade,
pelo que não me repetirei nessa matéria.
Os desenvolvimentos que
o Observador veicula sobre a operação estão focados no testemunho de Paulo
Azevedo, CEO da SONAE, ouvido na perspetiva da OPA abortada sobre a PT. Permito-me destacar a informação de quem 2007, aquando da
OPA da Sonae, Paulo Azevedo terá afirmado que era do conhecimento geral do
sistema bancário que o Grupo Espírito Santo (GES) estava com a situação líquida
a zero e que não obstante essa informação disseminada o grupo obteve financiamento
bancário para reforçar a sua posição acionista na PT. Bem sei que me dirão que
a regulação do Banco de Portugal não tem qualquer supervisão ou influência
sobre as atividades do GES. Mas conhecidos os riscos de contaminação entre o
BES e o GES esta informação pelos vistos então disseminada pelo mercado não
chegou aos ouvidos e radar do supervisor bancário? Como terá sido possível um
grupo depauperado receber a confiança do sistema bancário?
É uma pergunta incómoda
e cada vez mais se me enraíza a ideia de que esse período representa o nó
górdio da deriva do sistema bancário.
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