(Continua a
impressionar a não aproveitada elevada margem de manobra alemã para um
relançamento fiscal não só da própria Alemanha mas da União Europeia em geral, o que coloca de novo em evidência que o
cumprimento exigido das regras é só para alguns)
O governo federal alemão
atingiu no primeiro semestre deste ano um excedente orçamental de 1,2% do PIB,
contrariando a estimativa do FMI que previa um relançamento fiscal, embora
ligeiro, no âmbito da chamada cláusula IV de consulta com o governo alemão.
Como é conhecido, existe
uma tautologia macroeconómica que determina que a poupança pública líquida
(impostos menos despesas públicas) e a poupança líquida privada (poupança das
famílias e das empresas menos investimento) são conjunta e aritmeticamente
iguais à balança de transações correntes. Ora, na economia alemã, com
excedentes orçamentais e uma capacidade elevadíssima de poupança de uma
Alemanha envelhecida (aliás gerando dificuldades extremas aos bancos de
poupança alemães que enfrentam taxas de juro negativas), a balança de
transações correntes teria forçosamente de apresentar elevadíssimos saldos
positivos. Ou seja, a Alemanha não está a cumprir o seu papel de motor da
economia europeia, intensificando importações das restantes economias
europeias, particularmente das economias do sul. E, mais do que isso, está a
repercutir esse excedente externo global para a restante economia global.
No gráfico que abre este
post, é visível como o saldo positivo
da balança de transações correntes da Alemanha marca o idêntico saldo positivo
da zona euro. Mas, de acordo com a tautologia macroeconómica (T-G) + (S-I) =
Balança corrente externa, o saldo positivo da balança corrente alemã
é indissociável do seu excedente orçamental e da capacidade de poupança dos
alemães. O problema não está em que esta conjuntura possa manifestar-se. O
problema é que ele está a transformar-se em algo de estrutural e por isso o
comportamento macroeconómico da Alemanha não é simétrico, como deveria estar a
ser, dos países com défices externos. E sem essa simetria a união monetária está
em perigo.
Brad Stetser observou-o
bem no Follow the Money do Council on Foreign Relations (Nova Iorque) (ver link aqui) e Krugman seguindo a pista de Setser é como o costume curto e grosso para
com a obsessão excedentária dos alemães: “Mas a Alemanha
quer atingir excedentes e que toda a gente atinja também excedentes. A política
fiscal alemã restritiva contribui para a debilidade da procura global alemã e a
sua obsessão contra os défices é uma razão importante pela qual os outros países
europeus que enfrentam baixos custos de acesso a financiamento estão ainda a prosseguir
a austeridade” (ver link aqui).
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