segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O EMARANHADO DAS POLÍTICAS ATIVAS DE EMPREGO




(Alguma coragem vai ter o Governo de evidenciar para transformar as políticas ativas de emprego em algo de coerente e compatível com os objetivos que a justificam)

O JN de hoje traz para o destaque da sua página on line uma presumível fraude que estará em desenvolvimento, envolvendo os estágios de jovens em empresas com cofinanciamento do IEFP (mais especificamente com intervenção do Fundo Social Europeu). A fraude, escabrosa como qualquer desvio observado neste tipo de instrumentos de políticas ativas de emprego, abrange de acordo com a investigação do JN a recuperação junto dos estagiários da contrapartida que as empresas devem garantir à intervenção do IEFP, obrigando-os a devolver à empresa essa comparticipação. Como é óbvio, comportamentos desviantes neste tipo de políticas ativas de emprego existem sempre e é necessário avaliar o que é que representam, se uma prática mais ou menos generalizada, eventualmente facilitada pela exiguidade de meios do IEFP para a fiscalizar, se pelo contrário uma incidência meramente pontual, assunto de tribunal e não matéria de revisão da própria política.

Os estágios profissionais são um instrumento de política pública muito popular entre os sucessivos governos. Ainda em tempo de governação PAF, no qual a empregabilidade passou a dominar a visão sobre as políticas ativas de emprego, incluindo as de formação, o atual diretor da Faculdade de Economia do Porto, o colega José Varejão, coordenou um trabalho de avaliação no qual sobressaía com clareza o alcance comparativo dos estágios profissionais em termos de indução de postos de trabalho futuros. Em proporção direta à generosidade da comparticipação pública, o estágio profissional constitui para a empresa uma excelente oportunidade de testar o jovem trabalhador em contexto de trabalho, reduzindo assim significativamente a informação assimétrica de um possível recrutamento. Em contexto de desemprego muito elevado de jovens com formação secundária concluída e licenciados, os estágios profissionais são atrativos, sobretudo os dirigidos ao setor empresarial privado, já que os estágios na administração pública podem rapidamente transformar-se em atalho para a compensação das dificuldades orçamentais. Mas à medida que o mercado de trabalho vai dando sinais de alguma recuperação, não sabemos ainda se exclusivamente impulsionada pela sazonalidade turística do verão, é tempo de tornar o instrumento de política pública mais efetivo.

A intervenção dura sobre o tipo de fraude denunciada pela investigação do JN exige que empresas alinhadas com esse esquema sejam exemplarmente banidas do benefício de políticas ativas por tempo significativo. É altura também de colocar os estágios profissionais ao serviço de uma empregabilidade mais exigente, apoiando sobretudo os que possam contribuir para empregos que rompam com as debilidades estruturais mais relevantes do mercado de trabalho em Portugal, como por exemplo a precariedade das relações laborais. Não parece muito curial em contexto de alguma recuperação do mercado de trabalho ter os estágios profissionais a alinhar com as tendências mais duras e inconvenientes desse mercado. Não podemos ignorar que a incapacidade real do IEFP acompanhar com rigor os estágios e assim avaliar se eles estão a cumprir o objetivo de aprendizagem do contexto de trabalho, enriquecendo de facto o jovem com uma experiência profissional bem conseguida, exige pelo menos que haja a garantia de que os estágios não estão a prolongar a vivência das debilidades estruturais que se pretende combater.

Mas os estágios profissionais são apenas a ponta de um iceberg bem mais complexo e onde predomina a inércia administrativa do passado. Em reunião de antes de férias realizada com a equipa do ministro Vieira da Silva e do secretário de Estado Miguel Cabrita, a que se associaram outros especialistas da matéria, pude confirmar que há na equipa ministerial a perceção clara de que o quadro de políticas ativas de emprego tem de ser mais legível e efetivo nos resultados que pretende atingir. A inércia legislativa, largamente reproduzida pela própria carga burocrática do IEFP, está presente em diferentes dimensões. Aguardo por isso com curiosidade o que o governo terá para oferecer nos próximos tempos. Até porque uma leitura expedita dos recursos alocados no Portugal 2020 às políticas ativas de emprego, designadamente as centradas nos jovens já com uma experiência de desemprego, ou em busca de um primeiro emprego que não chega, rapidamente nos transporta para a conclusão de que os recursos serão esgotados muito antes do termo da programação.

E não menos importante continuam a não avançar as programações regionais focadas no empreendedorismo. Um dos maiores flops da programação 2020 tarda em ser corrigida. Coube-me denunciar essa matéria em trabalho de avaliação realizado para a Agência para o Desenvolvimento e Coesão e pela informação disponível o lio continua por desmontar.


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