quinta-feira, 25 de agosto de 2016

PEQUENINOS E FRÁGEIS




(Por estranha coincidência, a trágica destruição de vidas e memórias ancestrais em Amatrice coexistiu na comunicação social com a descoberta de um novo planeta, cujo potencial em termos de acolhimento de vida e a distância face à terra não é coisa que a tecnologia não possa resolver em tempos não muito longínquos)

A Itália central, mais ou menos costeira, e as suas zonas de transição para a Itália do sul acolhem burgos preciosos, preciosidades patrimoniais e de vivência humana dos pequenos aglomerados que ficam para sempre gravados nas nossas experiências de visitantes acidentais, flâneurs urbanos e desse tipo de ecossistemas. Mas na preciosidade patrimonial e na sugestão da memória oculta-se uma enorme fragilidade que emerge cruamente sempre que as entranhas da terra se agitam furibundas vá lá saber-se com quê. É a fragilidade humana que se manifesta, mas também a fragilidade física das infraestruturas, sobretudo no contexto de uma região marcadamente sísmica, e onde o epicentro pode agitar-se perto de zonas mais densas e quando isso acontece pode esperar-se o pior. Mas é ainda a fragilidade organizativa que se manifesta também cruamente quando é necessário enterrar mortos, procurar desaparecidos e tratar os mais atingidos, visível amargamente naquela denúncia violenta dos dois residentes de Amatrice quando vociferavam contra o isolamento, o abandono e o facto dos militares não terem aparecido para protagonizar ajuda e salvamento. Se quiséssemos ser rigorosos, tantos territórios, umas vezes joias patrimoniais, outras vezes nem por isso, se encontram em situações de fragilidade não apenas sísmica mas de outras naturezas como aqueles pequenos aglomerados italianos e não apenas nessa Itália. Por toda essa Europa, e sobretudo na menos desenvolvida, só a convergência benéfica dos astros ou de outras causas impede que essa fragilidade se manifeste. Nós, Europeus, que valoramos tanto a vida ao contrário de outras sociedades em que o preço da vida parece ter sucumbido para níveis impensáveis, certamente não nos apercebemos quão frágil pode ser a nossa existência em determinados contextos territoriais.

Entretanto, a televisão, rendida a um voyeurismo inclassificável continua a deleitar-se dos incêndios aos terramotos, preenchendo os restos de uma silly season.

Em simultâneo, soubemos estes dias (link aqui) de uma descoberta relevante de uns astrofísicos que descobriram um planeta aparentemente com condições potenciais de acolhimento de vida humana e em circunstâncias de proximidade astral à Terra suscetível de ser considerada como atingível em tempo compatível com a própria sobrevivência da espécie humana. O PROXIMA b gira em torno de uma estrela, PROXIMA CENTAURI, com alguma proximidade a esta última. Este facto, se tem a vantagem de assegurar a conservação de temperaturas quentes num sistema solar frio, também o submete a um nível de radiações, que fazem despertar dúvidas sobre as condições de vida que pode oferecer

A fragilidade humana também se faz de pequenez, cada vez mais revelada, seja na debilidade das infraestruturas, seja na dimensão do Universo. Será talvez o envelhecimento a recordar-me a minha própria fragilidade. Ou pode ser, em termos mais otimistas, o resultado de um dia de trabalho na canícula de Lisboa, que sempre me amolece as resistências. Ou talvez um misto das duas, quem sabe?

Sem comentários:

Enviar um comentário