(Por estranha
coincidência, a trágica destruição de vidas e memórias ancestrais em Amatrice
coexistiu na comunicação social com a descoberta de um novo planeta, cujo potencial em termos de acolhimento de
vida e a distância face à terra não é coisa que a tecnologia não possa resolver
em tempos não muito longínquos)
A Itália central, mais
ou menos costeira, e as suas zonas de transição para a Itália do sul acolhem
burgos preciosos, preciosidades patrimoniais e de vivência humana dos pequenos
aglomerados que ficam para sempre gravados nas nossas experiências de visitantes
acidentais, flâneurs urbanos e desse tipo de ecossistemas. Mas na preciosidade
patrimonial e na sugestão da memória oculta-se uma enorme fragilidade que
emerge cruamente sempre que as entranhas da terra se agitam furibundas vá lá
saber-se com quê. É a fragilidade humana que se manifesta, mas também a
fragilidade física das infraestruturas, sobretudo no contexto de uma região
marcadamente sísmica, e onde o epicentro pode agitar-se perto de zonas mais
densas e quando isso acontece pode esperar-se o pior. Mas é ainda a fragilidade
organizativa que se manifesta também cruamente quando é necessário enterrar
mortos, procurar desaparecidos e tratar os mais atingidos, visível amargamente
naquela denúncia violenta dos dois residentes de Amatrice quando vociferavam
contra o isolamento, o abandono e o facto dos militares não terem aparecido
para protagonizar ajuda e salvamento. Se quiséssemos ser rigorosos, tantos
territórios, umas vezes joias patrimoniais, outras vezes nem por isso, se
encontram em situações de fragilidade não apenas sísmica mas de outras
naturezas como aqueles pequenos aglomerados italianos e não apenas nessa
Itália. Por toda essa Europa, e sobretudo na menos desenvolvida, só a
convergência benéfica dos astros ou de outras causas impede que essa fragilidade
se manifeste. Nós, Europeus, que valoramos tanto a vida ao contrário de outras
sociedades em que o preço da vida parece ter sucumbido para níveis impensáveis,
certamente não nos apercebemos quão frágil pode ser a nossa existência em
determinados contextos territoriais.
Entretanto, a televisão,
rendida a um voyeurismo inclassificável continua a deleitar-se dos incêndios
aos terramotos, preenchendo os restos de uma silly season.
Em simultâneo, soubemos
estes dias (link aqui) de uma descoberta relevante de uns astrofísicos que descobriram um
planeta aparentemente com condições potenciais de acolhimento de vida humana e
em circunstâncias de proximidade astral à Terra suscetível de ser considerada
como atingível em tempo compatível com a própria sobrevivência da espécie
humana. O PROXIMA b gira em torno de uma estrela, PROXIMA CENTAURI, com alguma
proximidade a esta última. Este facto, se tem a vantagem de assegurar a conservação
de temperaturas quentes num sistema solar frio, também o submete a um nível de
radiações, que fazem despertar dúvidas sobre as condições de vida que pode
oferecer
A fragilidade humana
também se faz de pequenez, cada vez mais revelada, seja na debilidade das
infraestruturas, seja na dimensão do Universo. Será talvez o envelhecimento a
recordar-me a minha própria fragilidade. Ou pode ser, em termos mais otimistas,
o resultado de um dia de trabalho na canícula de Lisboa, que sempre me amolece
as resistências. Ou talvez um misto das duas, quem sabe?
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