(Mesmo em férias
breves, tempo para regressar a um tema fundamental para o nosso futuro, à boleia de mais uma recensão crítica da
obra máxima de Robert Gordon.)
Tempo para confirmar que
as praias de Vieira de Leiria (Marinha Grande) e Pedrogão (Leiria), por um lado
e S. Pedro de Moel, por outro, mantêm praticamente intactos os seus perfis,
mais popular o das duas primeiras e de nicho mais sofisticado a segunda. Tempo
ainda para confirmar que a ausência de pressão demográfica e turística
acrescida dá para perceber que mais estragos deve ser difícil produzir, compondo
o que sobretudo em S. Pedro de Moel ainda conserva elementos de preciosidade. O
que dá para concluir que já é visível que muito do capital fixo residencial e
turístico por lá existente não terá margem de aproveitamento possível, com as
interrogações habituais sobre o seu estado de conservação daqui a 10 a 20 anos.
E no meio destas reflexões
sensitivas sobre um território que já não visitava há longos anos, tempo para
consolidar a ideia de que a já aqui comentada (ver links aqui e aqui) obra de
Robert Gordon (The Rise and Fall of American Economic
Growth) marcará inapelavelmente o debate sobre o progresso técnico
na presente década, dada a ausência de refutações decisivas dos seus principais
argumentos. Recordo que Gordon não tem uma visão catastrofista do crescimento
económico. Ele não sustenta que deixará de haver crescimento económico, mas tão
só que ele continuará a acontecer a taxas bem inferiores às que fizeram o
chamado período dourado do crescimento económico (o século “maravilhoso”, apesar
das duas Grandes Guerras, de 1870 a 1970. Recordo ainda que Gordon apresenta do
lado da oferta a explicação mais plausível para a estagnação económica em que
as economias mais avançadas estão mergulhadas. Gordon está do lado da oferta
para o contributo na perspetiva da procura que Lawrence Summers representa.
O argumento de Gordon é
fundamentalmente alicerçado na ideia de que as economias de mercado muito dificilmente
beneficiarão de melhorias tecnológicas tão vastas nos seus efeitos sobre a
produtividade e a qualidade de vida das populações como as que tiveram lugar no
século de todas as descobertas. A eletrificação das casas e o seu
acondicionamento climático representa para Gordon uma dessas grandes conquistas
que ele vê como dificilmente superadas com as transformações impostas pelo digital
e pelas tecnologias de informação e comunicação.
A recensão crítica da
obra de Gordon que suscita este post e o regresso ao tema é do economista William Nordhaus para a New York Review of Books
que é, como sabemos, muito seletiva nos convites a economistas para nela escrever.
Nordhaus não é um economista qualquer. Ele tem a obra mais sólida e profunda
sobre a necessidade de melhorar os métodos através dos quais se mede os efeitos
sobre o PIB e sobre o crescimento económico do progresso observado em dimensões
relevantes da qualidade de vida como a saúde. O que é fundamental para perceber
a amplitude dos benefícios da revolução tecnológica do século 1870-1970. Mas Nordhaus
é também o economista que espera mais dos progressos da inteligência artificial,
ao ponto de considerar que se pode imaginar a última invenção tecnológica com
intervenção humana direta, a partir do qual a inteligência artificial comandaria
o progresso técnico, reproduzindo-se a si própria. Ora, não é difícil perceber
que só uma dimensão de progresso na rota da inteligência artificial poderia contrariar
decisivamente a tese de Gordon. Mas convém recordar também que a inovação é intrinsecamente
indeterminada. Ninguém a pode realmente antecipar. Com a informação hoje existente
o pessimismo relativo de Gordon é difícil de ser rebatido, o que não significa
que não possa estar errado.
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