(Quando hoje pelo fim da manhã, depois de uma rápida ida ao Porto, escutava a minha neta mais velha a contar a experiência do seu primeiro campo de férias no MOCAMFE, este ano nas margens do Vez, seguindo as pisadas do pai e do tio, falei com os meus botões e concluí como seria importante que todos os jovens deste país tivessem a oportunidade de usufruir de uma experiência do género que o MOCAMFE assegura já há bastante tempo. Curiosamente, quando já pela tarde procurava tema para um post, dei com uma notícia do Economist em que a revista se interroga se o modelo de cultura ocidental estará ou não a inibir o crescimento dos seus jovens. Temas como a infantilização dos jovens, a sua falta de autonomia, reféns de uma cultura paternalística cada vez mais securitária, começam a inspirar reflexões a pedagogos e a sociólogos da educação em parte alarmados com os sinais transmitidos a partir das sociedades afluentes. Estas sociedades tardam em encontrar um equilíbrio entre a “guidance” (orientação) e a valorização da autonomia pessoal. Se é verdade que o aumento significativo da esperança de vida tende a prolongar este modelo, não é menos verdade que os problemas do mundo de hoje exigiriam uma cultura de mais desprendimento nessa orientação, estimulando nos jovens a capacidade de assumir riscos, mesmo sabendo que dispõem de uma rede de segurança proporcionada pela proteção familiar.)
Nos meus contactos com jovens universitários tive oportunidade acompanhar de perto esse fenómeno que se foi agravando com os tempos (deixei as aulas no início da década de 2010), sempre com a constante do flagrante gap de maturidade entre raparigas (estas muito mais maduras para a mesma idade) e rapazes. Pensava então que o fenómeno não poderia ser compreendido apenas reportando ao ensino básico e secundário as razões para a sua disseminação, com a flagrante contradição de que a educação pública e privada nunca dispôs como hoje de ferramentas pedagógicas e tecnológicas como as que atualmente existem, ao serviço de processos de aprendizagem com maior autonomia pessoal e potencial inventivo. Pensava já então que a questão teria também de procurar bem fundo nas famílias as razões para o seu progressivo agravamento, oferecendo mais um exemplo de como a Escola e a socialização familiar têm de andar a par nas suas ambições, caso contrário o desastre está aí na próxima esquina.
A notícia do Economist é elaborada em torno da revisão da obra de um professor de criminologia na Universidade de Copenhaga (Keith Hayward), que apresenta o título provocatório de “Infantilized”.
As evidências que mostram a significativa alteração do contexto em que o fenómeno tem progredido são conhecidas de toda a gente. O número de jovens que aos 30 anos saiu de casa, é financeiramente independente, casou ou assumiu outra qualquer forma de relação e tem pelo menos um filho está em queda por todo o mundo avançado, já que a idade dessa independência não para de crescer.
Como é óbvio, existem fatores de contexto que contribuem para o diferimento da autonomia pessoal. O prolongamento da educação superior é um deles, já que estamos a falar de longas carreiras que diferem no tempo o momento da verdade de enfrentar o mercado de trabalho e as suas dificuldades de matching.
Mas de tudo isto, e longe de mim entrar na velha querela de que no nosso tempo as coisas eram melhores, o que mais me impressiona é que o sistema educativo não dê mostras seguras de que tem em conta o problema e que tem propostas de adaptação a essa nova realidade. Os níveis de autoformação no ensino secundário e sobretudo no ensino superior são escandalosamente baixos e ninguém que eu saiba parece estar preocupado com o problema. Sobre a infantilização dos jovens parece reinar um estranho silêncio, como se de tema incómodo se tratasse.
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