(André Carrilho, https://casino-estoril.pt/pt/revista-egoista)
Prefiro eximir-me a comentar a promessa eleitoral de Luís Montenegro de que iria resolver o problema da Saúde em Portugal com um plano de emergência a apresentar em 90 dias – porque a política atual é mesmo assim, promete-se o que for preciso sem saber verdadeiramente o quê e como e depois, obviamente, o prometido não acontece nem sequer começa a acontecer. A coisa acaba, com a infinita condescendência dos cidadãos, em disfarçados assobios para o lado ou, na melhor das hipóteses (como está a suceder agora), em pedidos de tempo para resolver os problemas (do SNS, no caso).
Mas há pior e esse pior representa o que de mais nefasto para o País marca a presidência de Marcelo. Na situação em causa, o Presidente da República logo veio pronunciar-se sobre a matéria, afirmando ser “preciso encontrar soluções o mais rápido possível para que a situação não se verifique no ano que vem. E eu ouvi a senhora ministra [da Saúde] dizer que para o ano, espero bem, que aquilo que se vive este ano já não seja vivido. A senhora ministra espera e eu espero.” Mas, como bem recorda João Miguel Tavares (JMT) na sua crónica de hoje (“Breve história dos ultimatos do Presidente da República”), “o histórico do sr. Presidente da República, e dos governos que ele pastoreia desde 2016, aconselha-nos a esperar sentados”.
Com efeito, e continuo a citar, “o adiamento da resolução de problemas e os ultimatos de 365 dias — afinal, as coisas não se resolvem de um dia para o outro… — são já uma marca de estilo de Marcelo Rebelo de Sousa” (recordando, com pertinência, que Marta Temido se demitiu em agosto de 2022 precisamente por causa do estado das urgências de obstetrícia e que Marcelo mandou dizer a Costa, em janeiro de 2023 através do “Expresso”, que lhe dava um ano para segurar a legislatura). Episódios que evidenciam uma “tendência para a protelação de problemas e para o engano autoinfligido” que se desmultiplicam em praticamente todas as áreas (as pronúncias e os ralhetes sobre a execução dos fundos comunitários e do PRR atingiram o cúmulo do anedótico e constituem uma ilustração perfeita da “Infantilidade bacoca” de que nos fala JMT!) desde o início do mandato e “da pior das formas”.
Mas o homem é incorrigível e nem em férias nos dá descanso! Ontem, em direto da praia de Monte Gordo, lá se pôs a perorar em torno da necessidade de um pacto de regime na saúde mas também sobre esta ser a pior altura para se encetar um tal caminho (então porquê trazer o assunto?), não deixando ainda de nos informar de que tinha que ir a Lisboa no dia seguinte (hoje, portanto) para atender a um funeral, ler uns telegramas diplomáticos e vários outros afazeres inadiáveis, além de nos presentear com outras larachas da sua especialidade diária ou bi-diária – a última, hoje no “Público”, é magistral e refere-se, de modo incomparável, a quanto ele quer o país ao serviço dos jovens e jovens ao serviço do país!
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