terça-feira, 27 de agosto de 2024

SVEN GöRAN ERIKSSON

 


(Temos de convir que o futebol é fértil em referências a atletas que atingem o grau superlativo da excecionalidade, em todas as épocas, mas não é propriamente o campo onde abundam as personalidades de exceção, íntegras, referências de comportamento e de posicionamento na sociedade e nas coisas da vida. O universo dos treinadores é um alfobre de personalidades afirmativas, seja na forma como ordenam o jogo das suas equipas, seja no modo como contribuem para uma melhor cultura do jogo. Em Portugal, não é difícil ir ao passado recordar figuras de referência entre os treinadores: Yustrich, José Maria Pedroto, Otto Glória, Bella Guttman, Mourinho são nomes que à sua maneira e no seu tempo marcaram o futebol português e as equipas em que trabalharam. Hoje, por razões óbvias, trago aqui o nome de SVEN GöRAN ERIKSSON, que considero ser um príncipe do futebol e que deixou na Luz recordações que estou certo são irrepetíveis. A maneira como Eriksson lidou com a sua doença e morte, arrancando homenagens por todos os clubes e países por onde passou, combatendo até ao fim, deixa-nos uma imagem de elegância nas coisas do futebol que não é frequente identificarmos neste universo.

A relação do Benfica com a Escandinávia em matéria de futebol é uma fonte inesgotável de qualidade e de outra cultura desportiva que a vinda de Eriksson para o clube selou com uma marca diferenciadora. O futebol que o Benfica jogava nos tempos de Eriksson era substancialmente diferente de tudo a quanto estávamos habituados no clube e isso não acontecia apenas entre as quatro linhas do campo onde se jogava. O futebol abria-se então a outros modelos de comportamento, acho que nunca me identifiquei tanto com um modelo de jogo. E além disso chegaram os suecos: Glenn Strömberg, Stefan Schwartz, Jonas Thern e Matts Magnusson vieram desfazer a ideia de que os nórdicos eram uma malta fisicamente alentada, mas um pouco tosca de técnica. Cada um dos quatro atrás referidos tinha uma inteligência de jogo compatível com aquilo que hoje sabemos do modelo social sueco – não há outro modelo económico e social no mundo que combine tão bem a proteção social e a inovação.

Pela homenagem que ainda foi possível concretizar em vida do técnico sueco, com momentos comoventes no Estádio da Luz, não foi difícil concluir que a empatia era recíproca. Ou seja, ao contrário do que alguns poderiam imaginar, a gente do Norte dá-se bem com as sociedades do sul. Imagino que Eriksson tenha deixado esta vida com uma imagem de felicidade e que aquela homenagem na Luz tenha estado ao nível dessa felicidade.

Que descanse em Paz.

 

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