quarta-feira, 21 de agosto de 2024

MONTENEGRO DEVE GERIR COM PINÇAS A SORTE QUE LHE VAI SORRINDO

A mensagem preparada por Luís Montenegro para no Pontal abrir as “hostilidades” do novo ano político foi encarada de formas muito desiguais pelos vários influencers e analistas da nossa praça. No essencial, uns vieram dizer que os três anúncios eram desfasados e/ou demasiado corriqueiros e limitados (pequeninos, até), outros mostraram a sua preocupação na medida em que “isto não dá para tudo” e os de pendor mais estruturalista explicitaram que “não é assim que se muda um país”. O certo é que Montenegro evitou falar do Orçamento, continuando assim a procurar ganhar todo o tempo que a sua lógica taticista lhe for permitindo, o que pareceu adequado a muitos (porque a iniciativa acaba, em última instância, por estar do lado de quem está no poder) e autoconstrangedor a outros tantos (por permitir ao Chega trazer mais confusão e novas flores populistas, como a ideia de um referendo sobre a imigração, para o nosso já tão perturbado terreno político). Ora, a meu ver, a realidade estará a evoluir mais no primeiro sentido do que no segundo, quer porque as propostas de Montenegro são eleitoralistas e o tendem a colocar favoravelmente na disputa do centro do espetro político, área onde a passividade do PS começa a ser desesperante e a sua margem de manobra cai de forma abissal, quer porque as audiências da extrema-direita não apenas estão em notória quebra como porque os tiros no pé de Ventura também vão ajudando a consolidar uma leitura positiva e de moderação associada ao líder do PSD. Neste quadro, o posicionamento deste, sendo objetivamente calculista e pouco estratégico, atira-o para uma situação de win-win, ou seja, para uma concatenação dos acontecimentos em que qualquer caminho lhe virá a servir. Mas tal não significa que não importe sobremaneira quanto não deve abusar das medidas e da sorte, sob pena de surpresas desagradáveis para o País.


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