(A convenção de Chicago para a consagração de Kamala Harris a candidata democrata às eleições americanas de novembro próximo é um autêntico monumento de comunicação política, tal é o nível de profissionalismo com que está a ser realizada. O palpitar do mundo livre assustado com uma possível vitória de Donald Trump espevitou os Democratas e a convenção de Chicago é uma espécie de toque a rebate para apagar um fogo antes que ele alastre. Largamente beneficiada pelo bom momento que a candidatura de Kamala vive após a desistência de Joe Biden, que fez nesta convenção uma comovente passagem de testemunho, a reunião de Chicago trouxe ao palco todos os pesos pesados do Partido que se esmeraram nas suas comunicações, o casal Obama (o SHE CAN continua a funcionar), o casal Clinton, Bernie Sanders, Ocasio-Cortez, só não me percebi se a sempre resistente Elizabeth Warren passou ou não pela convenção, e até personagens altamente mediáticas como Oprah Winfrey procuraram à sua maneira incendiar a multidão de militantes presente, não esquecendo Stevie Wonder e Spike Lee. Pode assim dizer-se que o partido Democrata esteve em força em Chicago, o momento não seria para outro posicionamento e só resta saber se ele está efetivamente UNIDO em torno das personagens de Kamala Harris e Tim Waltz. A questão de Israel e a teimosia da flor que não se cheira de Netanyahu quanto à situação trágica em Gaza continuam a dividir as hostes, pese embora todo o esforço de Kamala em referir-se ao assunto.)
Impulsionada pela excelente recetividade que a sua candidatura suscitou, Kamala tem alardeado uma confiança tal e um vigor tão determinado que apetece perguntar por onde andava esta Mulher desde a sua eleição como Vice-Presidente. De tudo quanto tenho ouvido, Kamala tem apresentado um pensamento moderado de centro-esquerda, tanto no plano económico, como no plano social. Obviamente que a cartilha de Trump e J.D. Vance rapidamente se entrincheirou na acusação de que Kamala é uma perigosa esquerdista, e falta de pudor para cuja construção não apresenta qualquer evidência, apenas má-língua. O conservadorismo patético de J.D. Vance tem-no atraiçoado, metendo-se por atordoadas inclassificáveis, como, por exemplo, a sórdida campanha em torno do facto de Kamala não ser Mãe. Até agora, o ricochete de tais atordoadas tem beneficiado Kamala, juntando em torno de si as fações mais progressistas do partido, sem engrossar a massa do conservadorismo republicano.
A escolha de Tim Waltz para candidato a Vice-Presidente tem apagado os ecos da escolha de J.D. Vance para Vice-Presidente de Trump e isso é uma boa notícia. Da convenção de Chicago para a frente o ritmo tem de ser sempre a subir, isso nem sempre é fácil de alcançar, mas o tom desta convenção promete o melhor e pode ser que o acordo sobre Gaza seja conseguido.
Até agora a campanha Republicana parece petrificada pela mudança de contexto, não mostrando capacidade para engrossar o ritmo de adesões ao triunfalismo patético de Trump. Mas o adversário é perigoso e sabe jogar sujo.
Sem comentários:
Enviar um comentário