(Creio que não me enganei e que vi o primeiro-Ministro, todo prazenteiro, a participar na Volta a Portugal que hoje terminou em Viseu. O homem tem direito a férias e nos 15 dias da praxe o orgulho do ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Rangel deve ter subido para níveis pouco conhecidos, indicado como seu substituto. Mas o facto do primeiro-Ministro ter direito a férias, não significa que o Governo possa dar-se ao luxo de desaparecer para parte incerta. Depois da azáfama dos primeiros dias em que a tática de anunciar que se faz uma coisa, mesmo que depois se comprove que isso afinal não era bem assim, funcionou às mil maravilhas e foi criada a sensação de que afinal, mesmo minoritário, o Governo estava a funcionar, nos últimos tempos foi observado um estranho desaparecimento das principais figuras do Governo, fazendo suspeitar que as coisas pararam para ver até onde iria a ousadia parlamentar da oposição. Estive a rever a matéria e é de facto ensurdecedor o silêncio governamental dos últimos tempos, como se tivesse sido pedida uma trégua, fôssemos a banhos para ganhar força para preparar a rentrée, faça-se ela com o Pontal à mistura ou com o calçadão de Quarteira.)
A matéria de inépcia mais gritante está sem dúvida localizada na ministra da Saúde e na incapacidade governativa para dar a volta a uma situação. Estivesse o PS no poder e a situação que se vive hoje nas urgências, com a Ordem dos Médicos a declarar que estar uma urgência de obstetrícia passa a ser notícia, faria cair o Carmo e a Trindade, isto para não falar em abalos mais significativos. A ministra parece andar aos bonés, mostrando que a situação é estrutural e que toda a fanfarronice com que a AD foi a eleições em matéria de saúde é agora visível, quando assistimos à deterioração ainda mais saliente da disponibilidade de abertura dos serviços. Imagino o alarido com que seria recebida na comunicação social a ideia de que haverá grávidas de Leiria a ser deslocadas para o Porto a 200 kms de distância. Julgo que ninguém de boa-fé e coração aberto compreendeu o que se passou com a substituição da estrutura executiva do SNS, agora entregue a um médico militar, do qual ouvi apenas que seguramente a rede teria de ser alterada. Obviamente. O ar amargurado e infeliz da ministra da Saúde faz suspeitar do pior e anuncia que iremos ter um agosto bem quente para quem decidiu por alguma nova alma neste mundo por estas alturas.
Em matéria de ideias vindas de um membro do Governo teremos de andar à caça, tamanha é a escassez dessa oferta. Queria mesmo assim destacar, já com alguns dias de atraso, a grande entrevista que o Ministro da Educação, Ciência e Ensino Superior Fernando Alexandre concedeu ao Público. Devo confirmar que é uma entrevista sensata e sobretudo descomprometida com os grandes grupos de interesses que habitam a matéria da educação em Portugal. Imagino que os Senhores Reitores das Universidades Portuguesas não terão gostado da entrevista e que, na sequência da preocupação de não terem agora um Ministro dedicado, deparam agora com um Ministro que não hesita em desconfiar da justificação de um sistema binário que na prática não existe e que se pronuncia favoravelmente sobre a possibilidade dos Politécnicos concederem doutoramentos se preencherem as condições necessárias para tal. A FCT também não sai incólume da entrevista, mas aqui o Ministro fez-se eco apenas do que a comunidade de investigadores portugueses pensa da instituição. Mas gostei sobretudo do tom sensato da entrevista, e sobretudo pragmática e descomprometida.
Finalmente, para os lados da cultura, onde não é possível ainda ter uma ideia mais ou menos fria e objetiva de tanta substituição de chefias em cargos relevantes, temos finalmente uma instituição relevante, a Cinemateca em que tudo indica tivemos um processo relativamente imaculado de regularização de Direção e Vice-Diretor, com prata da casa, mas obedecendo ao princípio da intervenção de validação do CRESAP. Já não era sem tempo.
Dos restantes membros do Governo não reza grande História. Terão ido para banhos?
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