(Sinceramente não sei se o homem, o nosso Primeiro-Ministro, tem raízes rurais ou urbanas. O que sei é que tem tendências marcantes para o pirosismo mais declarado, como é possível visualizar nesta vestimenta a rigor para ir aos Jogos Olímpicos, para começar com uma visita aos dois canoístas campeões do mundo em título que não conseguiram melhor do que um quinto lugar. De facto, nesta modorra estival marcada pela explosão de imagem e reportagem dos Jogos Olímpicos, que ajuda a mitigar a luta do costume contra a nortada, mesmo com barraca e cadeira a preceito, para enquadrar uma boa leitura. Mas a sina das medalhas de ouro fugirem de nós como o diabo foge da cruz está instalada e veio para ficar, mesmo com campeões do mundo em título a disputarem as provas. A nossa judoca cometeu a proeza do bronze porque não era esperada. Ontem, enquanto me deliciava com mais um jantar de família incompleta na casa Nanda da rua da Alegria, cada vez a cozinhar e a receber melhor, Pedro Pichardo quedava-se pela medalha de prata, enquanto o seu colega cubano que optou por Espanha ganhava a medalha de ouro. No fim, o campeão Pedro interrogava-se se teria motivação para continuar, os problemas com o Benfica, quais?, as dúvidas quanto ao apoio da Federação. Hoje, já em Seixas, depois de uma saída de leão, assisti ao momento em Fernando Pimenta colapsava nos últimos 500 metros, se calhar numa imagem metafórica de um país que depende de tão poucos atletas e por isso os coloca numa pressão tamanha, regra geral, dá para o torto. Doeu-me o coração ver o nosso valente campeão das terras do Lima sucumbir após a derrota e, sozinho, onde é que estava o raio do treinador ou alguém da Federação para o consolar?, até o seu adversário argentino, com o qual treina regularmente, lhe prestar o apoio anímico necessário.
De facto, o nosso desporto olímpico está dependente de um número muito reduzido de atletas de eleição, o que coloca as expectativas bem acima do que é normal num país normal, em que o desporto emerge como uma atividade respeitada como outra qualquer em que o orgulho nacional esteja em jogo. Tudo isto apesar do esforço continuado e ciclópico de uma rede imensa de instituições desportivas, que vão compensando a falta de ousadia de um apoio nacional mais sistemático, regular e estruturado. O desporto universitário continua a ser uma miragem e os senhores Reitores e Presidentes dos Politécnicos estão mais interessados noutras guerras e não faltaria conhecimento para isso. Veja-se por exemplo a qualidade da investigação que é realizada na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Os velhos tempos do CDUP, ao qual dediquei tantas horas de treino quando o voleibol era o meu desporto de eleição, com uma ida à seleção nacional de Esperanças que me encheu o ego numa ida memorável à velha Taça Latina em Madrid, no mítico de então Barnabéu, não regressam mais. Nunca percebi o litígio entre o CDUP e a Reitoria da UP.
Podemos construir todos os indicadores que pretendermos, seja em função do nível de desenvolvimento, seja em função da massa populacional. O ouro não quer nada connosco e não será obviamente por acaso. Reflete as nossas opções e sobretudo a ausência de uma cultura desportiva de base, que teria de começar obviamente no desporto escolar, prolongada depois para o desporto universitário.
Los Angeles está aí à porta.
A modorra estival sem os Jogos não será a mesma.
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