quinta-feira, 27 de abril de 2017

AFTER PIKETTY




(Heather Bouskey, diretora e economista-chefe do Equitable Growth, um excelente ponto de referência para o seguimento dos temas da desigualdade, moderou um debate com Brad DeLong e Marshall Steinbaum de apresentação do livro a três After Piketty, uma boa forma de antecipar a sua chegada e de mostrar que a obra de Piketty foi um marco no redireccionamento do foco para a desigualdade…)

O Equitable Growth é um ponto de referência e de confiança sobre o tema da desigualdade como foco da economia contemporânea. O debate entre os três autores – coordenadores do After Piketty : The Agenda for Economics and Inequality, a publicar pela Harvard University Press (a encomenda está feita).

O debate andou em torno do significado da eleição de Trump, como uma espécie de evidência de que as teses de Piketty e colegas redobram de importância quando uma eleição inesperada nos EUA nos mostra que os mais poderosos e que concentram a distribuição do rendimento podem, por via da televisão e de outros meios de comunicação que controlam, construir um processo de tomada do poder.

No desenrolar do debate e por força essencialmente de trabalho recente de Marshall Steinbaum, deu-se especial atenção ao crescimento da poupança líquida das empresas, sem que a variável investimento reaja em conformidade com a vasta abundância de recursos próprios que está a ser gerada através de uma repartição claramente favorável aos rendimentos do capital. A influência, por um lado, dos paraísos fiscais como formas de colocação dessas poupanças afastando-as do autoinvestimento e dos investimentos em I&D.

DeLong trouxe para a discussão um tema que lhe é caro. Não será propriamente a evolução da taxa de retorno do capital (capital físico, máquinas e edifícios) que explica o crescimento desmesurado da riqueza, mas antes a proliferação de diversas modalidades de rendas de monopólio que faz chegar o suplemento de combustível ao crescimento da riqueza.

Steinbaum relaciona o fenómeno com alterações sérias a nível da governação das empresas, balizadas sobretudo pela sobreposição entre gestão e propriedade e pela consequente generalização de padrões não competitivos. Esta avaliação de Steinbaum merece melhor atenção, já que nos sugere que temos de olhar com mais atenção para o tema da governação das empresas se quisermos compreender a proliferação do tema da desigualdade e concentração do rendimento.

A combinação dos dois aspetos, rentismo monopolista e governação endogâmica, constitui um bom tema de discussão pós Piketty.

Venha o livro.

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