(Heather Bouskey,
diretora e economista-chefe do Equitable Growth, um excelente ponto de referência
para o seguimento dos temas da desigualdade, moderou um debate com Brad DeLong
e Marshall Steinbaum de apresentação do livro a três After Piketty, uma boa forma de antecipar a sua chegada e
de mostrar que a obra de Piketty foi um marco no redireccionamento do foco para
a desigualdade…)
O Equitable Growth é um ponto de referência e de confiança sobre o tema da
desigualdade como foco da economia contemporânea. O debate entre os três
autores – coordenadores do After Piketty : The Agenda for Economics and Inequality, a publicar pela Harvard University Press (a encomenda está
feita).
O debate andou em torno do significado da eleição de Trump, como uma espécie
de evidência de que as teses de Piketty e colegas redobram de importância quando
uma eleição inesperada nos EUA nos mostra que os mais poderosos e que concentram
a distribuição do rendimento podem, por via da televisão e de outros meios de
comunicação que controlam, construir um processo de tomada do poder.
No desenrolar do debate e por força essencialmente de trabalho recente de Marshall
Steinbaum, deu-se especial atenção ao crescimento da poupança líquida das empresas,
sem que a variável investimento reaja em conformidade com a vasta abundância de
recursos próprios que está a ser gerada através de uma repartição claramente favorável
aos rendimentos do capital. A influência, por um lado, dos paraísos fiscais
como formas de colocação dessas poupanças afastando-as do autoinvestimento e dos
investimentos em I&D.
DeLong trouxe para a discussão um tema que lhe é caro. Não será
propriamente a evolução da taxa de retorno do capital (capital físico, máquinas
e edifícios) que explica o crescimento desmesurado da riqueza, mas antes a
proliferação de diversas modalidades de rendas de monopólio que faz chegar o
suplemento de combustível ao crescimento da riqueza.
Steinbaum relaciona o fenómeno com alterações sérias a nível da governação
das empresas, balizadas sobretudo pela sobreposição entre gestão e propriedade
e pela consequente generalização de padrões não competitivos. Esta avaliação de
Steinbaum merece melhor atenção, já que nos sugere que temos de olhar com mais atenção
para o tema da governação das empresas se quisermos compreender a proliferação
do tema da desigualdade e concentração do rendimento.
A combinação dos dois aspetos, rentismo monopolista e governação endogâmica,
constitui um bom tema de discussão pós Piketty.
Venha o livro.
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