sexta-feira, 14 de abril de 2017

DUAS REPORTAGENS, DUAS IDENTIDADES EM CONFRONTO




(O Financial Times e o New York Times publicaram nesta última semana duas reportagens, bem ilustrativas da divisão que se foi cavando nesta Europa, entre a pequena cidade que virou securitária e acolheu a extrema direita e a metrópole global e cosmopolita, Béziers versus Londres um contraponto a que temos dado pouca atenção…)

O Financial Times tem percorrido alguns dos bastiões populistas e de extrema-direita. Desta vez andou pelas bandas de Béziers, uma cidade de 75.000 habitantes entre Montpellier e Toulouse. De Béziers sabia eu que era um bastião do râguebi francês e que fora tocada pela derrocada da economia do vinho. Nesta cidade, parte integrante de uma França marginalizada e esquecida, o populismo de direita campeia, o sentimento anti-islâmico está à solta e pode dizer-se que é uma cidade representativa da Frente Nacional e de uma possível vitória nas legislativas deste mês.

Como é que se terá chegado a esta situação? Progressiva e sustentadamente, face à indiferença de muitos, gerando o que poderíamos chamar de territórios de desilusão.

Em contraponto, a reportagem do New York Times sobre a metrópole londrina respira cosmopolitismo, diversidade, integração, numa espécie de face sorridente da globalização. A metrópole londrina votou expressivamente contra o BREXIT, seguindo um modelo de “melting pot global, de trading global, de comunicação global e de um lugar em que todos toleram todos”. Tudo isto parece ruir com a vitória do BREXIT, sendo difícil de imaginar o que será Londres no pós-BREXIT, independentemente dos resultados da complexa negociação que vai seguir-se.

O contraponto de Béziers versus Londres ilustra bem a divisão em que a União Europeia está mergulhada. Talvez o contraponto tenha avançado em demasiada profundidade, colocando sérias interrogações como ultrapassar esta polarização.

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