(Equitable Growth)
(Mês a mês, os
relatórios sobre o mercado de trabalho nos EUA vão anunciando que a miragem de
um pleno emprego natural não é tão miragem como isso, o que não impede, surpreendentemente, que a
controvérsia desapareça sobre o real estado do mercado de trabalho, afinal o
que se passa?) …)
Quem ouviu o descompensado Trump falar dos empregos destruídos nos EUA poderia
imaginar o descalabro no mercado de trabalho americano. Mas já desde os últimos
anos da administração Obama os relatórios mensais sobre o mercado de trabalho,
por vezes com avanços e recuos não necessariamente explicados pelos ritmos da
sazonalidade, a criação de emprego e a descida da taxa de desemprego foi-se
processando em termos não compatíveis com a não-verdade de Trump.
Contudo, a controvérsia entre os economistas sobre o real estado das coisas
no mercado de trabalho, com reflexos na monitorização do FED que olha para o
mercado de trabalho como um elemento indissociável do que vai acontecendo em
termos de produto, tem persistido.
O relatório de março de 2017 acaba de ser publicado e o tom da enigmática controvérsia
persiste. Vamos aos números. A taxa de desemprego desceu para 4,5%, o valor
mais baixo desde o fatídico ponto de referência de 2007. Porém, os dados da
criação de emprego adensaram o conflito de interpretações. Em março terão sido
criados 98.000 novos postos de trabalho, o que face a revisões em baixa de dados
de meses anteriores, conduziu a uma média de 178.000 novos postos de trabalho
para o primeiro trimestre do ano corrente. Do que se vai conhecendo, são
sobretudo os encerramentos de lojas realizadas por algumas cadeias de
distribuição que têm diminuído a criação de emprego no comércio de retalho, puxando
para baixo o desemprego da criação de emprego. Uma informação positiva é a
continuidade do crescimento do rácio “Emprego-População (15-64)”, embora ele
continue a manter-se abaixo do observado no período imediatamente anterior à
crise. E talvez o dado que mais prudência aconselha na retoma da política monetária
de subida da taxa de juro por parte do FED é a muito moderada subida da taxa de
crescimento dos salários, estimado em 2,4% em confronto com a média do último
trimestre de 2016. Por outro lado, o número de trabalhadores que declara estar
a trabalhar a tempo parcial quando o seu desejo estaria estar a trabalhar a tempo
inteiro continua a descer mas ainda está estimado em cerca de 5.553.000 indivíduos,
o que é uma soma a impor respeito.
(Equitable Growth)
Estamos perante um sinal dos tempos. Pelo critério da taxa de desemprego, a
economia americana estaria na antecâmara do pleno emprego natural. Mas quando
usamos lentes mais sofisticadas e de mais largo alcance, começa-se a
compreender a persistência da controvérsia.
De qualquer modo, as lentes têm de facto de ser sofisticadas. Não é preciso
apenas dar conta de uma perspetiva mais ampla e holística sobre o mercado de
trabalho. É também necessário integrar na reflexão o tema do crescimento da
produtividade que continua desoladoramente em desaceleração. E ao mistério do
mercado de trabalho junta-se um outro o da explicação para o crescimento mais
lento da produtividade, que continua a reunir explicações plausíveis mas ainda
sem uma decisiva explicação. Com o alerta de Tim taylor no Conversable Economist, é o caso do último ensaio publicado pelas
atividades de research da McKinsey (ver link aqui) e do FMI (ver link aqui) que avança com mais seis fatores: mais baixo crescimento do
valor acrescentado, ou seja, maior influência do numerador do que do denominador
horas de trabalho; menor número de setores com crescimentos ímpares de
produtividade; menor crescimento da intensidade de capital de todos os tipos de
capital; incidência muito desigual da economia digital na economia; menor
dinamismo empresarial.
Quando nos vemos forçados a uma multiplicação de fatores explicativos para
explicar em economia um dado fenómeno pode ser algo de incontornável, mas regra
geral isso significa que a maturação da explicação ainda tem muito caminho que percorrer.
Moral da história: não compreendemos ainda com rigor e consistência o
comportamento da economia motora da economia mundial. O descompensado Trump
talvez esperasse algo de mais facilmente trabalhável. É a vida …
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