sábado, 8 de abril de 2017

ESTARÁ A AMÉRICA EM PLENO EMPREGO NATURAL?

(Equitable Growth)


(Mês a mês, os relatórios sobre o mercado de trabalho nos EUA vão anunciando que a miragem de um pleno emprego natural não é tão miragem como isso, o que não impede, surpreendentemente, que a controvérsia desapareça sobre o real estado do mercado de trabalho, afinal o que se passa?) …)

Quem ouviu o descompensado Trump falar dos empregos destruídos nos EUA poderia imaginar o descalabro no mercado de trabalho americano. Mas já desde os últimos anos da administração Obama os relatórios mensais sobre o mercado de trabalho, por vezes com avanços e recuos não necessariamente explicados pelos ritmos da sazonalidade, a criação de emprego e a descida da taxa de desemprego foi-se processando em termos não compatíveis com a não-verdade de Trump.

Contudo, a controvérsia entre os economistas sobre o real estado das coisas no mercado de trabalho, com reflexos na monitorização do FED que olha para o mercado de trabalho como um elemento indissociável do que vai acontecendo em termos de produto, tem persistido.

O relatório de março de 2017 acaba de ser publicado e o tom da enigmática controvérsia persiste. Vamos aos números. A taxa de desemprego desceu para 4,5%, o valor mais baixo desde o fatídico ponto de referência de 2007. Porém, os dados da criação de emprego adensaram o conflito de interpretações. Em março terão sido criados 98.000 novos postos de trabalho, o que face a revisões em baixa de dados de meses anteriores, conduziu a uma média de 178.000 novos postos de trabalho para o primeiro trimestre do ano corrente. Do que se vai conhecendo, são sobretudo os encerramentos de lojas realizadas por algumas cadeias de distribuição que têm diminuído a criação de emprego no comércio de retalho, puxando para baixo o desemprego da criação de emprego. Uma informação positiva é a continuidade do crescimento do rácio “Emprego-População (15-64)”, embora ele continue a manter-se abaixo do observado no período imediatamente anterior à crise. E talvez o dado que mais prudência aconselha na retoma da política monetária de subida da taxa de juro por parte do FED é a muito moderada subida da taxa de crescimento dos salários, estimado em 2,4% em confronto com a média do último trimestre de 2016. Por outro lado, o número de trabalhadores que declara estar a trabalhar a tempo parcial quando o seu desejo estaria estar a trabalhar a tempo inteiro continua a descer mas ainda está estimado em cerca de 5.553.000 indivíduos, o que é uma soma a impor respeito.

(Equitable Growth)
Estamos perante um sinal dos tempos. Pelo critério da taxa de desemprego, a economia americana estaria na antecâmara do pleno emprego natural. Mas quando usamos lentes mais sofisticadas e de mais largo alcance, começa-se a compreender a persistência da controvérsia.

De qualquer modo, as lentes têm de facto de ser sofisticadas. Não é preciso apenas dar conta de uma perspetiva mais ampla e holística sobre o mercado de trabalho. É também necessário integrar na reflexão o tema do crescimento da produtividade que continua desoladoramente em desaceleração. E ao mistério do mercado de trabalho junta-se um outro o da explicação para o crescimento mais lento da produtividade, que continua a reunir explicações plausíveis mas ainda sem uma decisiva explicação. Com o alerta de Tim taylor no Conversable Economist, é o caso do último ensaio publicado pelas atividades de research da McKinsey (ver link aqui)  e do FMI (ver link aqui) que avança com mais seis fatores: mais baixo crescimento do valor acrescentado, ou seja, maior influência do numerador do que do denominador horas de trabalho; menor número de setores com crescimentos ímpares de produtividade; menor crescimento da intensidade de capital de todos os tipos de capital; incidência muito desigual da economia digital na economia; menor dinamismo empresarial.

Quando nos vemos forçados a uma multiplicação de fatores explicativos para explicar em economia um dado fenómeno pode ser algo de incontornável, mas regra geral isso significa que a maturação da explicação ainda tem muito caminho que percorrer.

Moral da história: não compreendemos ainda com rigor e consistência o comportamento da economia motora da economia mundial. O descompensado Trump talvez esperasse algo de mais facilmente trabalhável. É a vida …

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