domingo, 16 de abril de 2017

QUALIFICAÇÕES, MERCADO DE TRABALHO, CLASSES MÉDIAS




(Os indicadores de que o mercado de trabalho, combinado com o progresso tecnológico, estão na origem da queda dos grupos sociais com rendimentos intermédios têm aparecido como cogumelos, oportunidade para dar conta de investigação acolhida pelo FMI e em parte vertida para o World Economic Outlook…)

Temos neste espaço alertado para a interpretação conjugada que alguns indicadores exigem para se compreender a queda generalizada dos grupos sociais com rendimentos intermédios (os chamados middle income). Todos conhecemos as sérias limitações de projetar a incidência das classes médias apenas com base na ideia de grupo intermédio de rendimento. De qualquer modo, penso que é informação que não pode ser ignorada.

Um dos indicadores que tem emergido com bastante insistência é o da queda do peso dos rendimentos do trabalho no rendimento total. Embora tomando todas as cautelas para não confundir distribuição funcional (entre salários e lucros) e pessoal do rendimento, o comportamento estrutural daquele indicador é demasiado pertinente para ser desvalorizado.

O próprio FMI, no âmbito do trabalho de investigação que suportou o World Economic Outlook deste ano, avança com hipóteses explicativas interessantes para explicar esse comportamento do peso das remunerações do trabalho no rendimento. E fá-lo integrando na análise o tema das qualificações. Assim, mostra que a fração de rendimento que vai cabendo às médias e baixas qualificações vem caindo de forma persistente (ver gráfico que abre este post). Embora mais acentuado nas economias avançadas, trata-se de comportamento que é também visível nas economias emergentes. O que mostra a incidência de fatores que são extensivos à economia global, nos quais o progresso técnico assume papel de relevo, superior aliás ao efeito da globalização e da integração económica associada nos mercados de trabalho.

Em linha com investigação já desenvolvida em torno da polarização nos mercados de trabalho, com David Autor, economista americano, em destaque, os investigadores do FMI mostram que a queda do peso das remunerações do trabalho no rendimento está fortemente ligado à propensão para as diferentes atividades estarem sujeitas a processos de rotinização.

O que significa que vamos estabilizando uma explicação global e consistente sobre um indicador-chave dos tempos modernos.

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