quarta-feira, 26 de abril de 2017

É PARA FICAR?




(O comportamento do índice global do comércio mundial, publicado pelo World Trade Monitor, parece revelar alguma recuperação, embora me pareça prematuro considerar esse valor um sinal consistente de que a globalização recuperará a sua trajetória de aprofundamento…)

Há várias maneiras de medir o ritmo de crescimento da globalização. O indicador mais utilizado é o do peso do comércio mundial no PIB mundial. Mas é um indicador de difícil cálculo mensal, não no que respeita ao numerador, mas antes pela dificuldade de termos uma medida do produto mundial com uma regularidade mensal. Daí que se opte pela monitorização do numerador, a evolução do comércio mundial, desagregado se necessário em valores de exportações e de importações mundiais. É o que faz o World Trade Monitor de responsabilidade do Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis.

Sabemos ainda que imediatamente após a crise financeira de 2007-2008 o aprofundamento económico da globalização parece ter sido manietado, tendo a evolução do peso do comércio mundial no PIB mundial estagnado após diminuição induzida pela crise. Várias explicações foram avançadas para compreender esse estancamento, algumas das quais envolvendo o tema das cadeias de valor globais, que davam mostras de terem sido encurtadas, com processos de reshoring a acontecer em alguns países designadamente os EUA. O ambiente global de incerteza e de insegurança, pouco favoráveis a aprofundamentos de globalização e antes facilitadores de nacionalismos, tem sido apontado como um fator de relevo.

Pois, os dados do World Trade Monitor de fevereiro de 2007 revelam que neste mês o índice de comércio mundial (para base 100 em 2010) começa a distanciar-se do valor mais baixo observado nos meses de maio (113,9) e julho (113,8) de 2016, meses que interromperam a recuperação observada desde o ano de 2010. Mas o próprio mês de fevereiro de 2017 representou uma ligeira descida desse índice global face a janeiro, o que pode sugerir ou instabilidade ou recuperação não consolidada.

Assim sendo, não compreendo bem o entusiasmo precoce de Justin Fox no Bloomberg View com o valor do índice de comércio mundial. Aliás, analisando a situação económica mundial, Martin Wolf, no Financial Times, é bem mais sensato e não hesita em isolar sete riscos a ter em conta: (i) riscos políticos com contágio nacionalista e protecionista; (ii) a agenda política americana, desestabilizadora em si mesma; (iii) a irresponsável desregulação financeira; (iv) a evolução a longo prazo da economia chinesa; (v) o impacto da administração Trump nas economias emergentes; (vi) a divergência intraeuropeia que se mantém; (vii) a emergência de governos ditatoriais a leste e na Turquia.

Resumindo, não parece ser com relatos precoces de recomposição da globalização que se matam os riscos que pesam sobre o comportamento da economia mundial.

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