(O comportamento
do índice global do comércio mundial, publicado pelo World Trade Monitor,
parece revelar alguma recuperação, embora me pareça prematuro considerar esse valor um sinal consistente
de que a globalização recuperará a sua trajetória de aprofundamento…)
Há várias maneiras de medir o ritmo de crescimento da globalização. O indicador
mais utilizado é o do peso do comércio mundial no PIB mundial. Mas é um
indicador de difícil cálculo mensal, não no que respeita ao numerador, mas
antes pela dificuldade de termos uma medida do produto mundial com uma regularidade
mensal. Daí que se opte pela monitorização do numerador, a evolução do comércio
mundial, desagregado se necessário em valores de exportações e de importações
mundiais. É o que faz o World Trade Monitor de responsabilidade do Netherlands
Bureau for Economic Policy Analysis.
Sabemos ainda que imediatamente após a crise financeira de 2007-2008 o
aprofundamento económico da globalização parece ter sido manietado, tendo a evolução
do peso do comércio mundial no PIB mundial estagnado após diminuição induzida
pela crise. Várias explicações foram avançadas para compreender esse estancamento,
algumas das quais envolvendo o tema das cadeias de valor globais, que davam
mostras de terem sido encurtadas, com processos de reshoring a acontecer em alguns países designadamente os EUA. O
ambiente global de incerteza e de insegurança, pouco favoráveis a aprofundamentos
de globalização e antes facilitadores de nacionalismos, tem sido apontado como
um fator de relevo.
Pois, os dados do World Trade Monitor
de fevereiro de 2007 revelam que neste mês o índice de comércio mundial (para
base 100 em 2010) começa a distanciar-se do valor mais baixo observado nos meses
de maio (113,9) e julho (113,8) de 2016, meses que interromperam a recuperação observada
desde o ano de 2010. Mas o próprio mês de fevereiro de 2017 representou uma
ligeira descida desse índice global face a janeiro, o que pode sugerir ou
instabilidade ou recuperação não consolidada.
Assim sendo, não compreendo bem o entusiasmo precoce de Justin Fox no Bloomberg View com o valor do índice de comércio mundial. Aliás, analisando a
situação económica mundial, Martin Wolf, no Financial Times, é bem mais sensato e não hesita em isolar
sete riscos a ter em conta: (i) riscos políticos com contágio nacionalista e
protecionista; (ii) a agenda política americana, desestabilizadora em si mesma;
(iii) a irresponsável desregulação financeira; (iv) a evolução a longo prazo da
economia chinesa; (v) o impacto da administração Trump nas economias
emergentes; (vi) a divergência intraeuropeia que se mantém; (vii) a emergência de
governos ditatoriais a leste e na Turquia.
Resumindo, não parece ser com relatos precoces de recomposição da globalização
que se matam os riscos que pesam sobre o comportamento da economia mundial.
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