(Em tempos em que
muitos teimam em denegrir o planeamento estratégico, sabe bem revisitar o
esforço lúcido de alguns municípios que avançam transparente e participativamente
na promoção do seu futuro, mostrando
como é o caso de Vila Nova de Famalicão que é possível, de facto, conceber um
planeamento de nova geração…)
O plano estratégico Vila Nova de Famalicão Visão 2025 foi um exercício exclusivamente
comandado pela Câmara Municipal, com a ajuda da Universidade do Minho em
algumas dimensões. Estou, por isso, à vontade, sem qualquer conflito de
interesses, para comentar o convite que me foi dirigido (bem haja ao Francisco
Jorge da Divisão de Planeamento Estratégico e Empreendedorismo) para participar
no 2º Encontro de pilotagem do Plano e da Visão, a que me associo com prazer.
A Visão Famalicão 2025 projeta ambiciosamente o concelho para uma vocação
diferenciadora “Seremos uma Comunidade Tecno-Industrial Global, num Território Verde
Multifuncional” e está construída com forte correspondência com a agenda
europeia da programação 2020, nela se destacando quatro agendas: ser empreendedor
na aplicação de soluções de futuro (inovação e empreendedorismo); ser um território
biodiverso (em torno da sustentabilidade); ser uma comunidade de excelência e
um laboratório de inovação social (uma visão moderna para os temas da inclusão
social, não marginalizando a iniciativa local) e ser um modelo de governança e
governação amigável (onde a comunhão e empatia com a população local é uma aposta
forte na descentralização e na sua capacitação).
As agendas têm à sua disposição um quadro de indicadores que permite a sua
monitorização, vencendo em grande parte o mito de que não há informação municipal
(e de facto há lacunas que se devem a um estado que não resiste á incúria nesta
matéria) para suportar uma monitorização transparente e acessível à população. Para
além disso, o município desenvolve um inquérito de satisfação à população
residente, por unidades de planeamento, o que permite testar em que medida o exercício
de planeamento estratégico está ou não próximo do cidadão residente e medir o
grau de satisfação relativamente a alguns projetos âncora implementados no território,
a cujos projetos marcantes e estruturantes é concedido um selo simbólico certificador.
Uma boa prática disso não tenho dúvidas. Uma boa prática por vezes dificultada
pela sempre penosa tradução das agendas europeias em programação à portuguesa,
sempre com muitas gavetas pelas quais o sistema burocrático-administrativo que nos
governa recupera a sua influência magistral, seccionando o que muitas vezes deveria
assentar numa visão holística e que os meandros da programação transformam em
fatias que só por essa via ascendem ao financiamento.
Na minha intervenção de amanhã, na Casa das Artes, projeto exemplar do
município, dedicarei alguma reflexão a esta natureza de boa prática e questionarei
a implementação da Visão com três elementos de evolução de contexto, aos quais o
exercício e a sua monitorização terão que se adaptar, dentro da lógica de pilotagem
que este segundo encontro pretende marcar.
Os três temas serão os seguintes:
- Primeiro, desenvolverei o tema de que a transição em curso em Vila Nova de Famalicão é bem emblemática do tipo de transição estrutural que vive a sociedade portuguesa: caminhando para um modelo de maior qualificação do emprego; evoluindo para uma maior intensidade de transacionáveis (Famalicão apresenta-se como o terceiro concelho exportador do país); consagrando novos padrões de sustentabilidade e inclusão para o crescimento que a inovação no concelho está a potenciar; fazendo jus à decentralização e à capacitação local;
- Segundo, discutindo no concelho a relação inovação-produtividade-emprego, falando obviamente de robotização e inteligência artificial, tema não tão longínquo como pode aparentemente ser sugerido;
- Terceiro, trazendo para o debate municipal a encruzilhada em que a globalização se encontra, a partir do momento em que os populismos de direita e esquerda capturaram as críticas à globalização.
Se puder apareça, às 18 horas, na Casa das Artes. Há bons restaurantes na Cidade, mesmo que o
restaurante das minhas memórias de adolescente, o Íris, da bomba de gasolina,
com aqueles azulejos de sonho, o porte e traje das empregadas e aqueles filetes
de peixe de sonho, um restaurante de eleição do meu avô Compadre Figueiredo de
Matosinhos, se tenha perdido na memória que já não tem retorno.
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