(Com a ameaça da
Frente Nacional relativamente contida e aparentemente sem o impulso de uma vitória
na primeira volta para o assalto final, as presidenciais francesas colocam o PS
francês em progressão para a irrelevância, o que mostra como é funda a perturbação da esquerda social-democrata e
não radical…)
Quando escrevo, Emmanuel Macron parece ter vencido a primeira volta das
presidenciais francesas com dois pontos percentuais por cima de Marine Le Pen.
Os apoios dos seus adversários (Fillon, Mélenchon, este último ainda não
declarado e Bénoit Hamon) para travar uma possível vitória de Le Pen na segunda
volta formam um grande rassemblement
de circunstância e sem dúvida que se estivesse em França votaria Macron na
segunda volta, resolvendo para já um problema, embora com a convicção que a
questão mais geral está longe de estar resolvida.
O esmagamento previsível do PS francês evolui para algo perto da catástrofe.
Hamon, entrincheirado à direita por um Emmanuel Macron que capitalizou bem a
sua saída atempada do governo de Hollande e Manuel Vals e por Fillon que apesar
de todo o nepotismo fixa cerca de 18-19% do eleitorado da direita francesa (mas
que direita!) e à esquerda por um Mélenchon de radicalismo mais ou menos
inconsequente, é bem a imagem da derrocada do pensamento socialista em França. Tudo
isto apesar de no programa de Hamon terem surgido algumas propostas que valia a
pena ter discutido, pelo menos as da fiscalidade, onde houve o dedo de Piketty
e da sua equipa.
Mas a desconexão dos socialistas franceses com a indignação e problemas de
grande parte da sociedade francesa é desde há muito desoladora e exigirá um longo
tempo para ser reatada. A discussão dos malefícios da globalização não regulada
foi sendo adiada entre os socialistas franceses com nefastas consequências para
as ultrapassagens que sofreu à direita e à esquerda e ausência do PS francês na
discussão dos malefícios de uma União Europeia governada por diretórios revelou
também a sua incapacidade.
Teremos assim um grande rassemblement
de pendor centrista e liberal para conter a ameaça Le Pen. Interrogo-me se todos
os franceses à esquerda, sobretudo os mais radicais e que se reviram na última
energia de Mélenchon, estarão dispostos a esse ato de defesa para suster uma
eventual chegada da Frente Nacional ao poder.
A Europa e os mercados terão respirado de alívio com a projeção de tudo
isto para a segunda volta. Mas, primeiro, a segunda volta não serão favas
contadas. Depois, poderá haver algum momento de distensão, mas para a esquerda
está aqui um grande novelo para deslindar. Até porque Emmanuel Macron não tem
propriamente um partido a suportá-lo. Irá formar um governo de pendor ainda
mais presidencial para navegar à vista? Cá para mim, apesar de se respirar um
pouco melhor, a procissão ainda vai no adro e vários desvios vão ainda
colocar-se.
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