domingo, 23 de abril de 2017

O DECLÍNIO NÃO DISCRETO DOS SOCIALISTAS FRANCESES




(Com a ameaça da Frente Nacional relativamente contida e aparentemente sem o impulso de uma vitória na primeira volta para o assalto final, as presidenciais francesas colocam o PS francês em progressão para a irrelevância, o que mostra como é funda a perturbação da esquerda social-democrata e não radical…)

Quando escrevo, Emmanuel Macron parece ter vencido a primeira volta das presidenciais francesas com dois pontos percentuais por cima de Marine Le Pen. Os apoios dos seus adversários (Fillon, Mélenchon, este último ainda não declarado e Bénoit Hamon) para travar uma possível vitória de Le Pen na segunda volta formam um grande rassemblement de circunstância e sem dúvida que se estivesse em França votaria Macron na segunda volta, resolvendo para já um problema, embora com a convicção que a questão mais geral está longe de estar resolvida.

O esmagamento previsível do PS francês evolui para algo perto da catástrofe. Hamon, entrincheirado à direita por um Emmanuel Macron que capitalizou bem a sua saída atempada do governo de Hollande e Manuel Vals e por Fillon que apesar de todo o nepotismo fixa cerca de 18-19% do eleitorado da direita francesa (mas que direita!) e à esquerda por um Mélenchon de radicalismo mais ou menos inconsequente, é bem a imagem da derrocada do pensamento socialista em França. Tudo isto apesar de no programa de Hamon terem surgido algumas propostas que valia a pena ter discutido, pelo menos as da fiscalidade, onde houve o dedo de Piketty e da sua equipa.

Mas a desconexão dos socialistas franceses com a indignação e problemas de grande parte da sociedade francesa é desde há muito desoladora e exigirá um longo tempo para ser reatada. A discussão dos malefícios da globalização não regulada foi sendo adiada entre os socialistas franceses com nefastas consequências para as ultrapassagens que sofreu à direita e à esquerda e ausência do PS francês na discussão dos malefícios de uma União Europeia governada por diretórios revelou também a sua incapacidade.

Teremos assim um grande rassemblement de pendor centrista e liberal para conter a ameaça Le Pen. Interrogo-me se todos os franceses à esquerda, sobretudo os mais radicais e que se reviram na última energia de Mélenchon, estarão dispostos a esse ato de defesa para suster uma eventual chegada da Frente Nacional ao poder.

A Europa e os mercados terão respirado de alívio com a projeção de tudo isto para a segunda volta. Mas, primeiro, a segunda volta não serão favas contadas. Depois, poderá haver algum momento de distensão, mas para a esquerda está aqui um grande novelo para deslindar. Até porque Emmanuel Macron não tem propriamente um partido a suportá-lo. Irá formar um governo de pendor ainda mais presidencial para navegar à vista? Cá para mim, apesar de se respirar um pouco melhor, a procissão ainda vai no adro e vários desvios vão ainda colocar-se.

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