(Estava escrito que,
mais tarde ou mais cedo, Rui Moreira teria de se haver com as minudências aparelhistas
do PS, intriga que baste mas
vinda de onde vem vale o que vale, pouco, muito pouco…)
Estou à vontade nesta matéria porque já o escrevi neste espaço. Para mim, não
está em causa o apoio possível que o PS pode conceder a Rui Moreira e à sua
possível reeleição como Presidente da Câmara Municipal do Porto. Mas deveria
fazê-lo apresentando ao Porto o seu projeto de Cidade, demonstrando aos seus
eleitores (onde não me incluo porque voto em Vila Nova de Gaia) que a melhor
maneira de defender esse projeto é associar-se à candidatura de Rui Moreira. Não
tem sido essa a orientação, Manuel Pizarro tem preferido jogar na negociação não
precedida de apresentação de projeto, está no seu direito e esperemos que pelo
menos a posteriori fiquem claras as duas
coisas: o projeto do PS e as razões para o apoio à candidatura de Moreira. Mais
preocupante ainda é a ausência de perspetiva visível do PS para a Área
Metropolitana, já não digo para o desconchavo em que se transformou a composição
atual da AMP a 17 municípios, mas pelo menos para o coração metropolitano,
composto pelos municípios de Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Valongo e Vila
Nova de Gaia.
Como previa, as minudências aparelhistas do PS algum dia apareceriam a
levantar cabeça, pois o manto protetor de uma candidatura a solo do PS seria
bem mais vasto e acolhedor do que algo dirigido por Rui Moreira, malgré acordo, pois pode meter competência,
especialização, ter algo para dizer, o que deve provocar como é óbvio pânico em
quem gosta de se mostrar por outro tipo de competências. Manuel Pizarro tem
tido essas minudências relativamente controladas e a intriga veio de Bruxelas,
desse grande vulto que tem passado pelo Parlamento Europeu a sua voz tonitruante
e convencida, Manuel dos Santos, a quem calhou na rifa a vinda de Elisa
Ferreira para outras funções em Lisboa. Tenho-me esforçado para tentar perceber
o que é que aquela alma tem feito pelos dossiers
de Bruxelas e Estrasburgo. Talvez o tenha feito no silêncio das negociações de corredor.
Mas talvez com falta de ocupação ou falta de motivação para os assuntos, o
deputado europeu mete intriga e desenha um acordo de bastidores entre o PS e Rui
Moreira que traria água no bico. Nunca tive qualquer conflito com o deputado
Manuel, mas habituei-me a não conceder qualquer crédito ao pensamento que dali
brota. Tem todo o seu direito a expressar publicamente o seu desacordo pela ausência
de uma candidatura autónoma do PS. Mas que o faça frontalmente, com argumentos
que se vejam e não por via da intriga que não chega a ser palaciana, por nem
sequer tem dimensão para tal.
Entretanto, o PSD avança para o Porto com a ideia peregrina de que a Cidade
está parada há quatro anos. Estamos a imaginar o que representa esta convicção
para um qualquer cidadão do Porto que nunca viu a sua Cidade com tanto protagonismo
e visibilidade internacional. O estado de negação tem destas coisas. O meu ex-colega
na FEP Álvaro Almeida, depois de algumas experiências pela regulação e na
administração regional na saúde, deve ter chegado à conclusão de que a vida na
FEP não é propriamente palpitante e sorri ao convite de Passos Coelho
investindo provavelmente no futuro e numa vidinha melhor, a prazo. Não há como
uma candidatura desta natureza para melhorar o nosso deve e haver das
oportunidades futuras. Estou a recordar-me da candidatura de António Taveira há
já longos anos. Porque até agora da candidatura de Almeida, só blá-blá, Rui Moreira
está refém, a Câmara é governada por radicais de esquerda, a qualidade de vida
dos portuenses degradou-se, promessas não cumpridas. Ideia de Cidade? Vai ser
preciso um grande esforço para descortinar alguma ideia de Cidade na
candidatura do PSD.
O Porto parece estar condenado a campanhas eleitorais típicas de cidadezinhas
de província. O Bloco e o PCP ainda não se pronunciaram decisivamente, mas
regra geral, o seu pensamento para o Porto é sempre instrumental do que
pretendem afirmar na política nacional, subalternizando a descentralização. As
origens de pensamento vêm sempre ao de cima.
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