quarta-feira, 12 de abril de 2017

AS INTRIGAS DESCERAM AO BURGO




(Estava escrito que, mais tarde ou mais cedo, Rui Moreira teria de se haver com as minudências aparelhistas do PS, intriga que baste mas vinda de onde vem vale o que vale, pouco, muito pouco…)

Estou à vontade nesta matéria porque já o escrevi neste espaço. Para mim, não está em causa o apoio possível que o PS pode conceder a Rui Moreira e à sua possível reeleição como Presidente da Câmara Municipal do Porto. Mas deveria fazê-lo apresentando ao Porto o seu projeto de Cidade, demonstrando aos seus eleitores (onde não me incluo porque voto em Vila Nova de Gaia) que a melhor maneira de defender esse projeto é associar-se à candidatura de Rui Moreira. Não tem sido essa a orientação, Manuel Pizarro tem preferido jogar na negociação não precedida de apresentação de projeto, está no seu direito e esperemos que pelo menos a posteriori fiquem claras as duas coisas: o projeto do PS e as razões para o apoio à candidatura de Moreira. Mais preocupante ainda é a ausência de perspetiva visível do PS para a Área Metropolitana, já não digo para o desconchavo em que se transformou a composição atual da AMP a 17 municípios, mas pelo menos para o coração metropolitano, composto pelos municípios de Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Valongo e Vila Nova de Gaia.

Como previa, as minudências aparelhistas do PS algum dia apareceriam a levantar cabeça, pois o manto protetor de uma candidatura a solo do PS seria bem mais vasto e acolhedor do que algo dirigido por Rui Moreira, malgré acordo, pois pode meter competência, especialização, ter algo para dizer, o que deve provocar como é óbvio pânico em quem gosta de se mostrar por outro tipo de competências. Manuel Pizarro tem tido essas minudências relativamente controladas e a intriga veio de Bruxelas, desse grande vulto que tem passado pelo Parlamento Europeu a sua voz tonitruante e convencida, Manuel dos Santos, a quem calhou na rifa a vinda de Elisa Ferreira para outras funções em Lisboa. Tenho-me esforçado para tentar perceber o que é que aquela alma tem feito pelos dossiers de Bruxelas e Estrasburgo. Talvez o tenha feito no silêncio das negociações de corredor. Mas talvez com falta de ocupação ou falta de motivação para os assuntos, o deputado europeu mete intriga e desenha um acordo de bastidores entre o PS e Rui Moreira que traria água no bico. Nunca tive qualquer conflito com o deputado Manuel, mas habituei-me a não conceder qualquer crédito ao pensamento que dali brota. Tem todo o seu direito a expressar publicamente o seu desacordo pela ausência de uma candidatura autónoma do PS. Mas que o faça frontalmente, com argumentos que se vejam e não por via da intriga que não chega a ser palaciana, por nem sequer tem dimensão para tal.

Entretanto, o PSD avança para o Porto com a ideia peregrina de que a Cidade está parada há quatro anos. Estamos a imaginar o que representa esta convicção para um qualquer cidadão do Porto que nunca viu a sua Cidade com tanto protagonismo e visibilidade internacional. O estado de negação tem destas coisas. O meu ex-colega na FEP Álvaro Almeida, depois de algumas experiências pela regulação e na administração regional na saúde, deve ter chegado à conclusão de que a vida na FEP não é propriamente palpitante e sorri ao convite de Passos Coelho investindo provavelmente no futuro e numa vidinha melhor, a prazo. Não há como uma candidatura desta natureza para melhorar o nosso deve e haver das oportunidades futuras. Estou a recordar-me da candidatura de António Taveira há já longos anos. Porque até agora da candidatura de Almeida, só blá-blá, Rui Moreira está refém, a Câmara é governada por radicais de esquerda, a qualidade de vida dos portuenses degradou-se, promessas não cumpridas. Ideia de Cidade? Vai ser preciso um grande esforço para descortinar alguma ideia de Cidade na candidatura do PSD.

O Porto parece estar condenado a campanhas eleitorais típicas de cidadezinhas de província. O Bloco e o PCP ainda não se pronunciaram decisivamente, mas regra geral, o seu pensamento para o Porto é sempre instrumental do que pretendem afirmar na política nacional, subalternizando a descentralização. As origens de pensamento vêm sempre ao de cima.

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