(A disseminação de uma dada tecnologia é um processo complexo, pois não se trata de um processo meramente económico. Os economistas evolucionistas da inovação, que muito aprecio, explicaram com pertinência que essa difusão, pelo menos das tecnologias de largo espectro, exige uma coevolução de aspetos organizacionais e institucionais. A ausência dessa coevolução ou a manifestação tardia da mesma podem diferir no tempo a bem-sucedida difusão dessas tecnologias ou mesmo conduzi-las senão ao esquecimento, pelo menos a um lugar mais secundário do que o seu potencial justificaria. Levanto esta questão a propósito da difusão das tecnologias verdes suscetíveis de conduzir a economia dos combustíveis fósseis a uma simples manifestação residual do passado. Este tema surge-me a propósito de dois gráficos, que considero eloquentes, que me surgiram na pesca de um tema para o post de hoje numa noite húmida de Seixas, já praticamente cobertos por um nevoeiro espesso, enquanto o som de uma romaria tardia de setembro aqui ao lado traz a este ambiente algo fantasmagórico uma dissonância estranha).
O primeiro gráfico, publicado pelo sítio Science is Strategic, documenta a impressionante descida de custos de produção de algumas das tecnologias verdes, cuja difusão pode revolucionar as estruturas produtivas das economias. Sabemos que a descida dos custos de produção de uma dada família de tecnologias integra a coevolução de que falei há pouco, podendo mesmo ser considerada segundo alguns economistas como uma condição necessária (mas não suficiente) dessa disseminação mais alargada. As três tecnologias representadas no gráfico serão determinantes para a revolução verde a caminho de economias mais descarbonizadas.
O segundo gráfico publicado pela International Energy Agency foca-se na descida dos custos das baterias, quer da armazenagem de energia, quer das baterias dos veículos elétricos.
Ambos os gráficos mostram, assim, que a condição necessária para uma revolução verde em matéria tecnológica está a acontecer, não discutindo agora se a já mencionada coevolução organizacional e institucional está a acontecer à mesma velocidade.
A descida observada é tão significativa que podemos interrogar-nos sobre as razões que explicam por que razão a tal revolução verde está tão lenta em matéria de difusão.
O que parece evidente é que, perante este contexto tão favorável, a decisão europeia de querer bloquear o acesso dos veículos elétricos chineses ao mercado europeu soa a algo de errado. Na verdade, essa decisão vai obviamente comprometer a tal coevolução de que falei, aliás sem garantia visível que venha a produzir efeitos e que a Europa vá rapidamente superar o gap imenso que a separa do potencial da economia chinesa em matéria de veículos elétricos.
Como dizia alguém num comentário televisivo qualquer, o establishment europeu que acompanha a reeleição de Ursula von der Leyen parece tolamente acreditar que a dinamização económica da Europa passará mais provavelmente pelo incremento das indústrias da defesa do que ser consequente em termos de apostas na descarbonização.
Sem comentários:
Enviar um comentário