sábado, 21 de setembro de 2024

MAIS PORTUGAL: A DIMENSÃO JOBS

Tenho vindo a defender neste espaço a ideia de que Portugal está a atravessar uma crise cujos contornos são multifacetados e que, se em última instância redundam em tremendas dificuldades de natureza económico-financeira, possuem fundamentos profundos e por demais radicados numa lógica de funcionamento assente num misto de desleixo e compadrio ético-institucional que se foi impondo na nossa sociedade. Trago aqui hoje a dimensão jobs for the boys, cuja factualidade já vem de longe mas tem vindo a assumir perversidades crescentes e cada vez menos aceitáveis à medida que o escrutínio ao dispor do cidadão foi ganhando em qualidade e que a consciência do caráter negativo dos impactos foi adquirindo uma inquestionável e consensual confirmação aos mais diversos níveis. Os exemplos escolhidos provêm de casos recentes e estão bem longe de esgotar o terrível espetro que nos cerca, nuns casos em favor de pequenos e médios militantes e prestadores de serviços (a Segurança Social é paradigmática) e noutros casos em favor de militantes mais instalados (os presidentes de Câmara que atingem limites em termos de recandidatura são o melhor comprovativo de quanto raramente há almoços grátis e de quanto os aparelhos são capazes de forçar as chefias a conceder-lhes lugares em secretarias de Estado, como deputados, como presidentes de instituições públicas relevantes ou lugares de importância para os quais as suas competências não os qualificam – ainda haverá um dia quem tenha a paciência de ir medir o número de “tachos” que caíram ao colo desta camada intermédia de políticos com cartão). Deixo por ora de lado algumas situações concretas mais pornográficas que conheci ou conheço dentro desta ordem de ideias, sobretudo porque não pretendo causar calafrios a quem nos lê nem é meu objetivo ir desnecessariamente para além do geral e abstrato que tanto prejudica aquela que poderia ser a desejável evolução do nosso devir coletivo. E, entretanto, o País arde ciclicamente sem que ninguém queira perceber ao certo porquê...

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

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