quinta-feira, 12 de setembro de 2024

DESCUBRA AS DIFERENÇAS

Os últimos episódios em torno da Efacec – grande empresa nacional do setor metalomecânico – são um autêntico case study sobre o que pode ocorrer quando impera a impotência política em matéria económica. Como antes já tinha sido, para mal dos pecados de uma empresa que chegou a acumular competências tecnológicas importantes e a ser um referencial a nível local/regional/nacional e em algumas dimensões internacionais, um exemplo dos erros que decorrem de gestões desconhecedoras do negócio em que estão envolvidas e/ou de gestões assumidas por causas exógenas ao desenvolvimento da empresa (caso de Isabel dos Santos, em particular).

 

O certo é que o anterior ministro da Economia, António Costa Silva (ACS), não perdeu tempo a vir comentar os primeiros dados tornados públicos de uma auditoria em curso pelo Tribunal de Contas segundo a qual a operação de privatização da empresa (ocorrida em julho de 2020) custará muito previsivelmente mais de 500 milhões de euros ao erário público. A pressa compreende-se: ACS, inteligente e arguto como é, compreende que foi longe demais, a múltiplos níveis, no que foi garantindo acerca do desenvolvimento da operação que herdou de Pedro Siza Vieira (PSV) e vem agora tentar amaciar os erros (daí o “descubra as diferenças”) a que a sua ingenuidade e inexperiência política o conduziram em termos de conteúdos e tempos de decisão.

 

Mas a culpa de ACS não pode morrer solteira quando foi PSV (ministro de Estado e da Economia de 26 de outubro de 2019 a 30 de março de 2022) quem, em 2 de julho de 2020, anunciou a nacionalização de 71,73% da Efacec com o objetivo de salvar uma empresa industrial dita estratégica e quem liderou de seguida o processo de reprivatização, sucessivamente atrasado mas sempre apresentado como sem perdas para o Estado até ter chegado a anunciar, aparentemente em cima do seu gongue de saída do ministério, a respetiva conclusão com base numa escolha da DST como entidade compradora. Porque veio agora PSV criticar a demora na venda ou referir a sua pena quanto à DST não ter sido a adquirente – simples vingança ou mistérios que nunca esclareceremos?


Em qualquer caso, e como referi, ACS também se deixou enredar no processo (quiçá porque a DST nunca tinha sido hipótese séria) e acabou com algo como uma ajuda de Estado a um fundo alemão (Mutares) que se propunha, em traços gerais, desmembrar a empresa e vendê-la por partes. Assim, não foi a empresa nem a tecnologia nacional que ACS quis salvar (o que já não era fácil) e optou por tentar salvar politicamente o governo trapalhão de António Costa, admitindo com ingenuidade que resultariam custos acima do estimado e que apenas haveria uma recuperação parcial dos encargos públicos.

 

Uma história triste, para alguns sintomática de que o Estado não pode envolver-se na economia, para os intelectualmente mais sérios elucidativa de que é tão deplorável o Estado que temos como a maioria dos agentes chamados a nele exercerem funções de responsabilidade. E assim vamos...

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