Mais um excelente artigo de Manuel Carvalho (MC) nas páginas do “Público”, desta vez a propósito da maldição TAP que há muito nos caiu em cima e não cessa de nos importunar a ponto agora de ter levado o Estado a fazer um triste “papel de otário” no contexto de um país “fácil de endrominar por espertalhões”. MC é duro na análise e especialmente nada meigo para com os responsáveis políticos envolvidos ao tempo ou indiretamente atingidos na atualidade – casos da então ministra de Estado e das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e do presente primeiro-ministro, Luís Montenegro, assim concretamente referenciados: “Maria Luís Albuquerque não pode passar politicamente incólume” e “se agir com um mínimo de sentido de Estado como se lhe exige [a Luís Montenegro], não pode aceitar que a tolerância com a negligência ou a cumplicidade se cole ao seu Governo”; e, ainda: “como nada indica que a auditoria da IGF seja um arrazoado de invenções, pelo contrário, o problema não se repara encolhendo os ombros, dizendo que não há nada de novo ou esperando que o tempo cure a pústula”. Já Miguel Pinto Luz é tratado com maior benevolência por nada ter tido a ver com a negociação dos suprimentos, sem prejuízo de ser qualificado como “fragilizado na tutela da TAP” porque “para todos os efeitos a privatização fechou-se com a sua assinatura”.
Em suma, o texto de MC não deixa margem a ambiguidades, seja porque “este é um daqueles casos políticos que se colam de forma indelével à pele de quem os pratica” seja porque notoriamente “a história reclama consequências”. Não julgo que estas venham efetivamente a surgir de modo cabal, pelo menos nos termos que parecem implícitos ao julgamento de MC e compatíveis com a gravidade objetiva do ocorrido, mas do anátema já não se livrarão facilmente aqueles que persistirem em assobiar para o lado ou em meter a cabeça na areia – e, ademais, quase aposto que Maria Luís vai ser desagradavelmente confrontada com o tema no decurso da sua audição parlamentar para efeitos de aprovação do seu nome enquanto futura comissária europeia...
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