Ontem, a reação saiu à rua para lavrar o seu protesto contra uma realidade que os seus principais expoentes políticos pretendem contrariar por inconsequentes e preocupantes razões de ordem ideológico-securitária (e também filiadas em agendas internacionais de elevado grau de perigosidade) mas cuja essência é incontornável na Europa dos nossos dias e no Portugal de hoje (veja-se, abaixo, o gráfico, bem elucidativo de uma tendência em curso acelerado, extraído do “Atlas da Emigração Portuguesa”).
Importará sublinhar que essa dimensão que qualifico de incontornável cada vez mais não resulta exclusivamente das tensões decorrentes da atração por melhores condições de vida por parte dos milhares de pessoas oriundas de países de baixo nível de desenvolvimento – um fenómeno que tem grassado de modo brutal e frequentemente desumano na Europa e nos Estados Unidos, em especial –, antes encontra em muitos países de destino (como é o caso crescente do nosso) expressões objetivas da sua inequívoca necessidade interna (atente-se nas declarações de vários setores dos nossos representantes patronais, como a do ex-presidente da CIP segundo a qual “Portugal sem imigração fecha”), designadamente no plano de um mercado de trabalho inapelavelmente rarefeito em várias áreas de atividade determinantes para as respetivas economias (turismo, agricultura e construção, no caso português – veja-se, mais abaixo, um elucidativo gráfico, que pecará por defeito em algumas áreas!, extraído de um estudo do Banco de Portugal sobre a matéria) e com repercussões não despiciendas no que toca às contribuições para a Segurança Social e em termos de equilíbrios populacionais, sociais e territoriais.
E mesmo que as competências destes imigrantes, muitas vezes significativas e potencialmente úteis e complementares às nossas, possam estar ainda a ser desperdiçadas pela incapacidade de organização coletiva que nos carateriza (seja no que respeita à colmatação das nossas falhas produtivas ou a um controlo mais eficiente desses fluxos) às ou que não cuidemos adequadamente do acolhimento que lhes deveríamos conceder para que o seu funcionamento pudesse ocorrer em termos mais ordenados (burocracia, fiscalização – tenho ouvido relatos absolutamente inacreditáveis quanto ao teor das fiscalizações que as nossas autoridades fazem junto das entidades empregadoras! –, habitação, ausência de apoios diversos, etc.), nada justifica que nos deixemos vergar perante a terra atirada aos nossos olhos pelos encantadores de serpentes de uma extrema-direita populista e sem quaisquer soluções efetivas para um real enfrentamento dos problemas nacionais.
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