Completamente consciente da diversidade das personagens e dos percursos em presença, diversidade que tende até a talvez tornar indevido este registo, aqui quero deixar uma referência à memória de quatro importantes figuras desaparecidas neste Verão. Na fila de cima, duas famosas e míticas estrelas de cinema, a bela americana Gena Rowlands aos 94 anos – a “mulher sob influência” que foi a grande musa do realizador John Cassavetes – e o francês Alain Delon aos 89 anos – um galã que viveu décadas numa crista da onda que foi conseguindo encobrir a sua ambivalência de carreira e vida através da imagem que cultivou e dos episódios que protagonizou (quem não se lembra da sua relação com Romy Schneider e do filme “A Piscina” que marcou uma geração lusitana). Na fila de baixo, dois homens de causas: o advogado francês Henri Leclerc aos 90 anos – um defensor da causa da liberdade durante décadas de carreira (foi presidente da Liga dos Direitos do Homem e tornou-se especialmente marcante na defesa de alguns dos principais revoltosos de maio de 68) que foi amigo próximo de Michel Rocard; o economista de origem egípcia Pierre Salama aos 82 anos, alguém que escolheu Paris como cidade de adoção e que marcou uma época com a sua investigação de base marxista (recordo “Sur la Valeur”, um livrinho da coleção “Petit Maspero”), tendo-se depois especializado em temas de desenvolvimento económico e desigualdade com particular enfoque na dinâmica e estrangulamentos das economias emergentes, designadamente latino-americanas. Cada um à sua maneira, subjetivamente escrutinável pelos nossos diferentes entendimentos das suas ações e obras, fizeram o seu caminho e justificam esta singela menção.
Sem comentários:
Enviar um comentário