Dois dos mais importantes pensadores da atualidade, o israelita Yuval Noah Harari e o americano Damon Acemoglu, divulgaram recentemente duas obras essenciais para uma melhor compreensão dos desafios do nosso tempo. Uma e outra revelam alguma reserva quanto ao potencial associado à utilização da Inteligência Artificial (IA), o primeiro questionando-a em termos sociais e políticos e o segundo confrontando as capacidades que lhe são atribuídas no plano da ligação entre a tecnologia e o funcionamento das economias. Falo de uma matéria sobre a qual a minha competência é limitada e não pretendo, por isso, ir muito longe nas matérias, preferindo remeter os nossos leitores para os trabalhos em causa, o de Harari acabadinho de chegar às livrarias (também em tradução portuguesa – espero que sem que a IA tenha contribuído para a rapidez desta dinâmica editorial...). O certo é que temos, por um lado, o fascínio que necessariamente decorre das façanhas conseguidas com recurso a um instrumento revolucionário como esse, facilmente sendo percetível quanto a IA pode constituir-se num meio de destreza e facilitação no tocante a muitas das nossas tarefas quotidianas e profissionais menos apelativas; mas, e por outro lado, relevam os riscos que nos podem entrar pela porta dentro, designadamente em termos de um incontrolável big brother que agrida e transcenda a liberdade individual e possa arrastar mecanismos e lógicas suscetíveis de fomentar toda uma nova (des)ordem coletiva (vejam-se, por exemplo, as notícias que nos chegam da China em sede de penalização do comportamento dos cidadãos). Pessoalmente, e não pretendo ser um “bota de elástico” mais ou menos básico, tendo a não rejeitar a importância e utilidade de prestarmos atenção ao que aí começa a estar ao nosso alcance, embora conteste os excessos de entusiasmo com ferramentas que ainda carecem de significativos graus de afinação e, sobretudo, que ainda necessitam de ser dotadas de imprescindíveis agenciamentos regulatórios e escrutínios sociopolíticos que moderem ímpetos ultraliberalizantes que só a ganância justifica. Ficam as recomendações e uma chamada de atenção para as indiciadoras entrevistas dos dois autores ao “Público” e ao “Jornal de Negócios”.
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