A sensação resultante dos resultados eleitorais de Brandemburgo é obviamente de alívio. Mas tal sensação não pode deixar de vir acompanhada de uma dose de inquietação, na medida em que a derrota da extrema-direita aconteceu in extremis e contra as estimativas das sondagens num Estado que é social-democrata desde a reunificação. E a questão que nos salta à cabeça, é novamente a seguinte e recorrente: até quando vai esta nossa Europa continuar a ameaçar vitórias extremistas de partidos saudosistas dos seus mais terríveis tempos ou, pior ainda, não será que um dia o lobo vai mesmo surgir-nos inapelavelmente pela frente?
A vitória do SPD num Estado geograficamente próximo de Berlim e onde se impuseram os traços de uma realidade vibrante e jovem – Potsdam é uma cidade fascinante desse ponto de vista – é razão de celebração, pois. Mas uma simples análise dos números justifica mais reflexão, a saber: (i) a Esquerda perdeu quase 10 pontos percentuais (os Verdes, designadamente, perderam mais de metade dos seus votos e ficaram de fora do Parlamento), o que sugere que se terá instalado uma dinâmica de voto útil; (ii) a CDU, na contracorrente da situação nacional, caiu mais de 3 pontos e deixou de ser ali uma alternativa moderada aos extremistas; (iii) a expressão atingida pelo novo partido criado por Sahra Wagenknecht, a sua “Aliança – Razão e Justiça” (no gráfico acima BSW), parece já não mais permitir a sua desconsideração nas contas eleitorais alemãs e, tendo presente que se trata de alguém vindo do lado da Esquerda, talvez devesse merecer uma atenção mais cuidada ao sentido das suas propostas políticas, em especial no tocante ao tratamento da magna questão da imigração de um modo mais radicalmente fora da caixa do que o da ortodoxia axiomática do business as usual que não parece capaz de aportar respostas socialmente toleráveis – ou seja, não seria já o momento de encarar de frente, e com olhos de ver que não ultrapassem imprescindibilidades humanitárias e democráticas, um problema que cresce sob apropriação fácil dos populismos mais hediondos?
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