A conversa que por aí circula em torno do estado a que chegou a Saúde em Portugal está por demais estafada e esgotada. E qualquer que seja a volta que se lhe queira dar, a mais pura das verdades é que a coisa não tem mesmo ponta por onde se lhe possa pegar. Falo dos incidentes diários nos hospitais e nas estradas nacionais, sobretudo no Centro e Sul do País, e de como eles sinalizam bem a continuada acumulação de incompetências e erros políticos e de gestão que marcou os anos da Troika e subsequentes – independentemente das cores partidárias no poder e das pessoas concretas em exercício de responsabilidades –, do que uma persistente lei de Murphy foi sendo fonte estimuladora de inacreditáveis perversões (das absurdas promessas iniciais de um Montenegro cheio de si ao instinto vingador da ministra Ana Paula Martins, imbuída de um enorme quantum de cara de pau e incapacidade política à mistura, ou às estapafúrdias e intoleráveis histórias de partos deslocalizados para as localizações tão ocasionais quanto impensáveis a que temos vindo a ser sujeitos– como uma peça recente do “El País” recentemente sublinhava em termos amplamente atónitos).
Mas o que é coletivamente mais grave é que no centro de um problema seriíssimo – que até poderia chegar a adquirir contornos quase humorísticos não fossem os dramas pessoais e familiares que frequentemente arrasta – está uma questão estrutural que continua largamente por esclarecer no Portugal de hoje: a da crise do nosso Estado Social, de que a Saúde será porventura o expoente maior, e nela a da estabilidade e prosperidade com que sucessivos governantes nos procuram encher a cabeça sem que para tanto logrem equacionar devidamente os respetivos pressupostos, as doses de culpa e espaço de solução atribuíveis a cada componente e o alcance dos compromissos necessários e que, no entanto, pouco mais vão sendo do que comunicacionalmente explorados em estrito interesse próprio.



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