A expressão “polícia do mundo”, com que em tempos não muito longínquos alguma esquerda internacional brindava acusatoriamente o chamado imperialismo americano, volta a primeiro plano na atuação desta Administração Trump. Com efeito, e apesar de cada vez mais visivelmente dividida entre um Donald voluntarioso e inconsequente e outros agentes – dos que ainda preservam mínimos de bom senso e/ou consciência dos limites aos que estão mais perigosamente ao comando de uma estratégia nacionalista de destruição da ordem internacional –, a verdade é que as ingerências dos EUA aumentam de modo intolerável e largamente ao arrepio das regras e das instituições que supostamente as deveriam evitar ou enquadrar. A política das tarifas – ela própria incompreensível e plena de incoerências, algumas completamente absurdas em termos de uma qualquer lógica que lhe pudesse estar subjacente – correspondeu a um mero ponto de partida, economicamente determinado, de uma deriva que foi sendo alargada a variados domínios de intervenção (geo)política ao sabor de sempre presentes dinâmicas impositivas (dominantemente ameaçadoras e unilaterais, apesar de frequentemente afirmadas como negociais, e discriminatórias em função de (des)amores conjunturais). Da atração pelas terras raras da Ucrânia à peregrina ideia de construção de condomínios de luxo em Gaza, dos ataques mortais a supostos carteis de droga na América Latina às cobiças tornadas patentes em visitas asiáticas ou africanas, Trump e seus muchachos não se têm poupado a esforços para fazer vingar as suas leis e ir deixando as suas marcas. O venezuelano Maduro parece estar agora na mira do aspirante a “poderoso chefão” mundial e, mesmo não sendo o dito merecedor de qualquer simpatia pela forma como indesculpavelmente contribuiu para transformar o seu país numa ditadura grotesca e para conduzir o seu povo a um grau de miséria impensável, sempre haverá que denunciar tudo quanto os EUA venham a patrocinar e forçar no interior de uma nação independente e soberana (com Maria Corina Machado à espreita). Sinais indesmentíveis de um “polícia do mundo” a transfigurar-se assustadoramente num “ladrão do mundo”...

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