Estou longe de ser um especialista em matéria de mercado imobiliário. Não obstante, tenho vindo a olhar com crescente atenção o que nele se passa por cá e por vários países nossos parceiros europeus, seja porque tal pode ser um importante elemento explicativo da situação de insuficiência estrutural que veio a lume a impensável ponto no domínio da Habitação seja porque tal é também determinante para um melhor entendimento do estado a que chegamos quanto à forma como a acumulação de riqueza tem vindo crescentemente a passar ao lado da respetiva criação em virtude das enormes oportunidades de ganho que a especulação tem fornecido aos nossos ricos e empresários. O acesso quase fortuito que tive a um recente artigo do jornal “ECO” permitiu-me atualizar a situação em presença nas duas principais cidades portuguesas – e também aquelas onde os preços naquele mercado mais explodiram – e, abstraindo do otimismo que cabe aos que nele operam, perspetivar dificuldades no horizonte dos referidos investidores.
Os gráficos abaixo, que reproduzo com a devida vénia aos seus autores (que recorreram a informação do INE), evidenciam claramente que a generalidade do mercado de habitação em Portugal continuava em alta no segundo trimestre de 2025 mas que existiam indícios de algum arrefecimento em freguesias dos dois burgos com habitual procura relevante, justificando análises mais cuidadas quanto à ideia de um crescimento generalizado e imparável. Com efeito, há freguesias com registo de sucessivas quebras trimestrais de preços – o que os interessados atribuem, de modo simplista, a pressões decorrentes da entrada de casas novas no mercado –, com destaque para a contração homóloga do valor mediano das vendas no segundo trimestre em 7 das 24 lisboetas e para as quedas de preços no mesmo período no caso da portuense União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde.
Assim – e independentemente da interessante investigação em consolidada afirmação quanto ao surgimento de uma Asset Economy e, com ela, de lógicas novas e perversas de investimento e de desigualdade que importa ter em conta (o que aqui explorarei um dia destes) –, a verdade mais basilar é a de que parece começar a ser tempo de alguma “cautela e caldos de galinha” por parte de quem privilegia um ilimitado “venha a mim” em relação à mais trabalhosa decência de um “venha a nós”...



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