segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

OS MELHORES DO MUNDO E MAIS NADA!

Na sua crónica semanal do “Público”, José Pacheco Pereira (JPP) volta a tocar num tema que, de modo invariavelmente aflitivo, tanto nos afeta pela negativa. Mesmo tendo por pretexto um incidente político sem grande conteúdo e conjunturalmente explorado pelo oportunismo de Ventura, JPP insiste numa daquelas verdades como punhos que de há séculos teimamos em não assumir e, assim, nos levam a não consciencializar o caderno de encargos que nos deveria prioritariamente ocupar. Não resisto, por isso, a citar um excerto do texto em causa.

 

“Comecemos pelo nacionalismo, que é no caso atual exatamente igual no discurso, no tempo e no modo, ao do Estado Novo. A frase de que “Portugal é o melhor país do mundo” é falsa. Não é, é um país pobre, em que muitos portugueses vivem na pobreza, com elites sem coragem e cada vez mais ignorantes, distraído dos seus problemas pelo futebol e pelosreality shows, com criminalidade assente na violência doméstica e na corrupção, com uma política do grau zero. Tudo isto não é fruto de cinquenta anos de democracia, bem pelo contrário, o que há de melhor na nossa história recente deve-se ao 25 de Abril, à liberdade, à democracia, ao enorme desenvolvimento que uma fotografia aérea revela melhor do que quaisquer palavras, e que todas as estatísticas mostram.

Mas isso, insisto, não o torna o “melhor país do mundo”. Mas é o meu país, e isso para quem é patriota significa muito. É a minha cultura, a minha língua, a minha história, a minha terra, tudo coisas que o nacionalismo de pacotilha ataca, ignorando a cultura, falando e escrevendo mal o português, falsificando a história e desprezando a terra, a nossa terra. As coisas que fazem a nossa identidade de portugueses são ignoradas, a favor de guerras culturais viciadas à partida. É uma espécie de discurso woke de direita radical, exatamente com os mesmos mecanismos do woke de esquerda.

A nossa história tem muitos pontos negros que, aliás, partilha com a história universal, umas vezes pior e outras melhor. Falar da história não é ocultá-los ou falseá-los, para aparecermos como uma espécie de cavaleiro branco intangível com uma espada numa mão e na outra a cruz. O que estes nacionalistas esquecem é que ao fazer isto diminuem Portugal.”

 

Pois é. Foquemo-nos, por contraste, no discurso algo bacoco com que o ainda Presidente da República nos tem atordoado anos a fio, o de que somos “o melhor país do mundo” apenas porque assim deve ser por exigência patriótica e também por ausência de vontade e capacidade para conduzir os portugueses a defrontarem-se consigo próprios e a inverterem a sua viciada propensão para oscilarem entre o excesso de despropósito e o acolhimento da responsabilidade. Veja-se, por exemplo, o que disse Marcelo à comunidade nacional de Nova Iorque: “É um orgulho ter cidadãos como vocês, e é um orgulho que mostra a fibra dos portugueses. Nós somos assim, vamos para nove séculos de História assim, cada vez melhores, mais fortes, mais sofisticados, mais solidários, mais influentes, porque melhores.”

 

Não basta já de ilusões vendidas ao desbarato? Alguma vez poderemos ser melhores quando afinal nos dizem que já atingimos o máximo? Obrigado por tentar ajudar a pôr-nos no sítio que importa, caro JPP!

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