Gosto de ir de vez em quando à procura do que os números nos mostram e ensinam. Embora sempre dependente da informação estatística disponível – que tem indiscutivelmente melhorado, ainda que a margem de progressão se mantenha enorme –, raramente não encontro evidências curiosas, significativas ou surpreendentes.
Decidi desta vez ir em busca de mais alguns elementos associados aos fluxos migratórios recentemente verificados em Portugal (em concreto, desde a crise de 2007/08), concentrando-me em duas dimensões bastante relevantes: a das entradas e saídas ditas permanentes de cidadãos portugueses (primeiro gráfico acima) e a das entradas e saídas ditas permanentes de pessoas jovens (segundo gráfico acima). Uma simples observação permite concluir: (i) que as saídas de nacionais do nosso território foram superiores às entradas até 2018 e passaram subsequentemente a ser crescentemente inferiores – os que regressam aproximam-se atualmente de um valor quase duplo em relação aos que imigram; (ii) que a emigração de jovens do país esteve bastante acima da correspondente imigração até 2017 para passar a assumir valores relativamente estáveis e a ser largamente ultrapassada pelo crescente número de jovens imigrantes registados anualmente (numa relação que se situa entre 3,5 e 4 vezes nos anos de 2022 e 2023). Dois fenómenos que importará estudar de modo mais aprofundado, quer para comprovar o rigor dos números do INE quer para confrontar algumas ideias feitas que se vão espalhando sem o benefício da verificação da devida consistência.
Vejamos abaixo o que nos mostram mais agregadamente os dados anteriores. Para o efeito, considerei as entradas e saídas de portugueses em dois períodos distintos de sete anos (2011/2017 e 2018/2023 ou 2024) e subdividi a imigração e emigração de jovens em três quinquénios sucessivos (2009/2013, 2014/2018 e 2019/2023). No primeiro caso, a resultante mais saliente é a que decorre do facto de tudo indicar que existe hoje uma evolução no sentido de um importante regresso dos cidadãos nacionais ao país (à razão de mais de 7500 por ano, contra 2300 no período precedente) e de uma significativa quebra de quase dois terços no tocante à média de saídas de portugueses do país – uma conclusão que, sendo necessariamente provisória, parece ir na contracorrente do que se vai lendo e ouvindo na comunicação social, no discurso político e até na investigação académica.
No segundo caso, e um pouco na mesma direção, o que se observa denota que a emigração de jovens parece manter uma estabilidade em sentido moderadamente descendente, enquanto a respetiva imigração aponta para um enorme salto no período 2019/2023 (com os quase 10400 jovens entrados no país a quase triplicarem os cerca de 3500 do quinquénio anterior) – mais uma vez, uma conclusão necessariamente provisória mas que parece ir ao arrepio das convicções adquiridas e nos suscita a obrigação coletiva de apreender este facto e de o aproveitar em proveito de dinâmicas transformadoras da nossa realidade social e económica.
Aqui ficam, pois, alguns desafios que reputo de potencialmente pertinentes para quem pretenda conhecer o que por cá vai acontecendo e mudando para assim melhor ser capaz de contribuir com propostas fundamentadas e construtivas para a desejável transformação desse Portugal profundo e tão cheio de assimetrias e disfunções.




Sem comentários:
Enviar um comentário