terça-feira, 9 de dezembro de 2025

MOÇÃO DE CENSURA À “THE ECONOMIST”

A revista “The Economist”, por muitos considerada a melhor do mundo em matéria económica em sentido lato – e eu não fujo à regra, pois que a assino anualmente há mais de três décadas –, acaba de prestar um ótimo serviço à imagem de Portugal e à estratégia de comunicação governamental e um péssimo serviço aos portugueses e ao rigor analítico que dela se espera e é quase unanimemente dado por adquirido. Refiro-me ao seu ranking anual de economias com que, desde há cinco anos, ali se procura determinar qual terá sido “a economia do ano” (Which economy did best in 2025?) de entre uma amostra de 36 das mais ricas do mundo (OCDE).

 

O resultado, à primeira vista surpreendente e sempre positivamente em qualquer circunstância, foi o de posicionar o nosso país no primeiro lugar da referida classificação e assim de o trazer a um foco internacional que raramente obtém (a secção Finance&economics apresenta o simpático subtítulo “Muito bom” e o quadro ordenado de países surge curiosamente intitulado “As sweet as a pastel de nata”). Pois que antes digam bem do que mal da gente, dirá uma certa sabedoria popular.

 

No entanto, a verdade é que o ranking é construído a partir de cinco indicadores – inflação, banda inflacionista, crescimento do PIB, crescimento de emprego e desempenho do mercado de capitais – que, a despeito de a avaliação em presença ser implicitamente muito mais conjuntural do que estrutural e de a dimensão conjuntural ser afetada pela sua referenciação ao terceiro trimestre do ano, não apenas não evidenciam adequadamente o que se pretende avaliar (alguém se interrogou, p.e., sobre a justeza de integrar no cálculo dois tipos de dados remetendo para a variável inflação, de nele incorporar as situações relativas de mercados de capitais tão distintos quanto desigualmente representativos em termos nacionais e/ou internacionais ou de selecionar indicadores com graus de variabilidade muito diversos entre si?) como também não contemplam diligências mínimas quanto a algumas especificidades básicas diferenciadoras das economias nacionais (alguém se interrogou, p.e., sobre a realidade do nosso débil mercado de capitais, sobre a solidez e durabilidade das bases subjacentes ao crescimento do nosso produto ou sobre a necessária flexibilização anunciada pelo Governo em relação ao nosso dinâmico mercado de trabalho?). Ou seja: não afirmo taxativamente que exercícios desta ordem não possam revelar-se úteis para determinadas finalidades, mas sublinho a minha desilusão quanto à forma como a “The Economist” cedeu à tentação do marketing e veio contribuir para uma indução errónea junto dos seus leitores (designadamente os mais incautos em termos de análise económica) sobre as performances relativas das economias, não cuidando de as colocar em contexto nem de explicitar a fragilidade dos pressupostos implicitamente assumidos para o seu macarrónico exercício.

 

Lamentando portanto, por razões técnicas e políticas, o facto que ontem se nos deparou, a tal acresce que o mesmo também não deixou de se traduzir em mais uma fonte de complicação e perplexidade na cabeça da maioria dos nossos concidadãos, seja porque se lhes está a contar uma história que alimenta a falsa e perigosa narrativa dos “melhores do mundo” seja porque uma larga percentagem deles só pode encarar com revolta o que lhes é contado e o reportam à constatação dos seus parcos níveis remuneratórios e da sua insatisfatória capacidade para fazer face às despesas familiares obrigatórias.

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