sábado, 3 de junho de 2017

1967




(A nossa experiência de vivência de um determinado tempo nunca nos consegue proporcionar a perceção do que esse tempo representou na duração longa, breves reflexões de um sexagenário sobre um artigo do Ípsilon da passada sexta-feira.)

Estou na expectativa como muitos outros. Esperamos comprar o gadget da reedição especial do Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles, como gadget para ouvir e contemplar, mas também pelo que o álbum significa para muitos de nós.

O Ípsilon da passa sexta-feira, pela pena de Mário Lopes, dedica-lhe algumas páginas deliciosas que aumentam a expectativa, até porque a versão estéreo que se anuncia é obra de Giles Martin, filho do legendário produtor dos Beatles Georges Martin que os acompanhou fielmente durante toda a carreira. Mas mais do que as referências ao significado do Sargent Pepper’s, interessa-me aqui realçar o excelente artigo de Mário Lopes sobre o significado do ano de 1967 do ponto de vista da explosão de cultura urbana que ele representou. E de facto, pelo menos do ponto de vista da música popular, a explosão de convergências é notável, lembrando-nos que um ano depois aconteceria algo em França que permanece no nosso imaginário político e social. A análise de ML é exaustiva. Os Doors e os Pink Floyd estreavam-se então, os Kinks brilhavam, os Velvet Underground caústicos como nunca marcavam presença e tempo também para o White Rabbit e o Somebody to Love dos Jefferson Airplane que ainda hoje me causam pele de galinha quando os ouço em romagem de memória distante. Tempo também do mítico Monterrey Pop Festival que nos trouxe Jimi Hendrix, Janis Joplin e Otis Redding. E muito mais. A crónica de ML é preciosa e termina com a alusão a que 1967 é também premonitoriamente o ano de Playtime de Jacques Tati.

O mistério é sempre o mesmo. A nossa perceção da vivência de ano tão fantástico, no acanhado canto de uma sociedade periférica sem a Internet de hoje, não é nem por sombras equivalente à perceção que o tempo longo nos deu do significado de 1967. Quem me garante que a vivência dos tempos de hoje não virá a ter um significado totalmente diferente à luz do futura longa duração.

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