(A nossa experiência
de vivência de um determinado tempo nunca nos consegue proporcionar a perceção do que
esse tempo representou na duração longa, breves reflexões
de um sexagenário sobre um artigo do Ípsilon da passada sexta-feira.)
Estou na expectativa como muitos outros. Esperamos comprar o gadget da reedição especial do Sargent
Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles, como gadget para ouvir e contemplar, mas também pelo que o álbum significa
para muitos de nós.
O Ípsilon da passa sexta-feira, pela pena de Mário Lopes, dedica-lhe algumas
páginas deliciosas que aumentam a expectativa, até porque a versão estéreo que
se anuncia é obra de Giles Martin, filho do legendário produtor dos Beatles Georges
Martin que os acompanhou fielmente durante toda a carreira. Mas mais do que as referências
ao significado do Sargent Pepper’s, interessa-me aqui realçar o excelente artigo
de Mário Lopes sobre o significado do ano de 1967 do ponto de vista da explosão
de cultura urbana que ele representou. E de facto, pelo menos do ponto de vista
da música popular, a explosão de convergências é notável, lembrando-nos que um
ano depois aconteceria algo em França que permanece no nosso imaginário político
e social. A análise de ML é exaustiva. Os Doors e os Pink Floyd estreavam-se
então, os Kinks brilhavam, os Velvet Underground caústicos como nunca marcavam
presença e tempo também para o White Rabbit e o Somebody to Love dos Jefferson
Airplane que ainda hoje me causam pele de galinha quando os ouço em romagem de
memória distante. Tempo também do mítico Monterrey Pop Festival que nos trouxe Jimi
Hendrix, Janis Joplin e Otis Redding. E muito mais. A crónica de ML é preciosa
e termina com a alusão a que 1967 é também premonitoriamente o ano de Playtime
de Jacques Tati.
O mistério é sempre o mesmo. A nossa perceção da vivência de ano tão fantástico,
no acanhado canto de uma sociedade periférica sem a Internet de hoje, não é nem
por sombras equivalente à perceção que o tempo longo nos deu do significado de
1967. Quem me garante que a vivência dos tempos de hoje não virá a ter um significado
totalmente diferente à luz do futura longa duração.
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