segunda-feira, 26 de junho de 2017

A SEMPRE INSTÁVEL E INCORRIGÍVEL ITÁLIA




(As eleições locais em Itália, com uma derrota clara do partido de Matteo Renzi, a ascensão de Centro-Direita com Berlusconi mais bunga-bunga do que nunca e a erosão esperada do populismo esfarrapado de Grillo, é bem a imagem da imprevisível Itália, com a derrocada da banca à mistura…)

Como tinha antecipado, a chegada ao poder de alguns militantes do populista 5 Estrelas confirmou o que dizem os livros e estes têm muita força. Uma coisa é criticar o poder, selvática ou imaginativamente, mais ou menos violentamente, outra coisa bem diferente é governar cidades da dimensão e com as problemáticas de Roma.

Do lado do Partido Democrata de Renzi, os resultados eleitorais das locais sugerem que o sai agora para entrar depois do azougado ex-primeiro Ministro italiano, de que tanto se esperou para uma Europa mais combativa da ortodoxia macroeconómica, caiu mal no eleitorado italiano. Pode discutir-se se os resultados das locais, que deve dizer-se derrotam Renzi mas não o afastam do cenário eleitoral de legislativas próximas, devem ser ou não fator de extrapolação credível. O que a situação criada sugere é que Renzi se fixou na luta contra o 5 Estrelas de Beppe Grillo e seus correligionários líderes municipais, perdendo de vista que o Centro-Direita é uma espécie de Sempre em Pé, apoiado na força local dos nortistas (vitória da Liga em Génova, Monza, Alessandria e Verona), cansados de uma Itália a três velocidades, e no bunga-bunga de Berlusconi.

Resta a interrogação se Renzi conseguirá acalmar as hostes e conservar a liderança, partindo para as legislativas, fazendo esquecer o seu tour de force constitucional referendário que lhe saiu pela culatra. Com esta jogada do sai agora para entrar depois, perdeu-se a referência eventualmente regeneradora do pensamento de Renzi. Estou curioso se, primeiro, Renzo consegue ou não regressar ao poder e, segundo, o que vai ser um eventual Renzo com Macron a dominar as atenções do relançamento europeu.

Cá para mim, a tendência para a erosão rápida das lideranças políticas talvez seja forte de mais para um político com erros de cálculo tão claros. Mais um que se perderá eventualmente nestes tempos abrasivos para as lideranças mais escorregadias.

P.S. Por cá não tenho prazer algum em ver o líder da oposição deixar-se apanhar pela ideia dos suicídios em Pedrogão. Não é o facto de se ter utilizado uma fonte sem a confirmar (de uma liderança de Misericórdia local, esclareça-se). O que mais me impressiona é o que Passos Coelho pensaria trabalhar em termos políticos com tema tão sórdido.

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