(As eleições locais
em Itália, com uma derrota clara do partido de Matteo Renzi, a ascensão de
Centro-Direita com Berlusconi mais bunga-bunga do que nunca e a erosão esperada
do populismo esfarrapado de Grillo, é bem a imagem da imprevisível Itália, com a derrocada da banca à
mistura…)
Como tinha antecipado, a chegada ao poder de alguns militantes do populista
5 Estrelas confirmou o que dizem os livros e estes têm muita força. Uma coisa é
criticar o poder, selvática ou imaginativamente, mais ou menos violentamente,
outra coisa bem diferente é governar cidades da dimensão e com as problemáticas
de Roma.
Do lado do Partido Democrata de Renzi, os resultados eleitorais das locais sugerem
que o sai agora para entrar depois do azougado ex-primeiro Ministro italiano,
de que tanto se esperou para uma Europa mais combativa da ortodoxia macroeconómica,
caiu mal no eleitorado italiano. Pode discutir-se se os resultados das locais,
que deve dizer-se derrotam Renzi mas não o afastam do cenário eleitoral de
legislativas próximas, devem ser ou não fator de extrapolação credível. O que a
situação criada sugere é que Renzi se fixou na luta contra o 5 Estrelas de Beppe
Grillo e seus correligionários líderes municipais, perdendo de vista que o Centro-Direita
é uma espécie de Sempre em Pé, apoiado na força local dos nortistas (vitória da
Liga em Génova, Monza, Alessandria e Verona), cansados de uma Itália a três
velocidades, e no bunga-bunga de Berlusconi.
Resta a interrogação se Renzi conseguirá acalmar as hostes e conservar a liderança,
partindo para as legislativas, fazendo esquecer o seu tour de force constitucional
referendário que lhe saiu pela culatra. Com esta jogada do sai agora para
entrar depois, perdeu-se a referência eventualmente regeneradora do pensamento
de Renzi. Estou curioso se, primeiro, Renzo consegue ou não regressar ao poder
e, segundo, o que vai ser um eventual Renzo com Macron a dominar as atenções do
relançamento europeu.
Cá para mim, a tendência para a erosão rápida das lideranças políticas
talvez seja forte de mais para um político com erros de cálculo tão claros. Mais
um que se perderá eventualmente nestes tempos abrasivos para as lideranças mais
escorregadias.
P.S. Por cá não tenho prazer algum em ver o líder da oposição deixar-se
apanhar pela ideia dos suicídios em Pedrogão. Não é o facto de se ter utilizado
uma fonte sem a confirmar (de uma liderança de Misericórdia local, esclareça-se).
O que mais me impressiona é o que Passos Coelho pensaria trabalhar em termos
políticos com tema tão sórdido.
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