(Confesso que os resultados
dos Trabalhistas excederam as minhas previsões de intuição, sobretudo porque não
admiti que para além da recuperação face aos Conservadores recuperasse posições
na Escócia; mas de certo
modo estas eleições, para além de penalizarem a arrogância pretensamente
vitoriana, colocam a nu a polarização que a votação do BREXIT já tinha anunciado…)
Face à arrogância de Theresa May, ainda hoje se interrogando como é que foi
possível uma noite tão desastrosa, a firmeza de Corbyn colheu frutos. Mas estou
convencido que, embora sem estudos de opinião a fundamentar a minha tese, foi a
votação do BREXIT a determinar essencialmente o ressurgimento do eleitorado jovem
e a rejeição que esse eleitorado mostrou face à gestão política dos Conservadores.
Nesse contexto de rejeição, a autenticidade de Corbyn, mesmo que algo dissonante
no seu tempo, terá capitalizado esse sentimento de rejeição.
Sabemos que a juventude mais cosmopolita ficou extremamente chocada com os
resultados do BREXIT, sobretudo pela antecipação dos efeitos que tal votação
poderá determinar na sociedade britânica. Não me admiraria que esse eleitorado
desejasse castigar os Conservadores, não esquecendo que o BREXIT é também o
resultado da falta de firmeza de Cameron e do seu governo. Afinal, se quisermos
ser rigorosos os Conservadores somam num período de tempo relativamente concentrado
três erros cruciais: primeiro, a cedência na questão do BREXIT por razões de
mero oportunismo político; segundo, uma política macroeconómica austeritária
com custos elevados em termos de perda de produto potencial na economia do
Reino Unido; terceiro, a arrogância com que May se apresentou junto do eleitorado
convencida que ficaria na história por arrasar, erradicando, o Partido Trabalhista.
Polarização, divisão, problemas de governabilidade, atendendo aos custos
antecipáveis no apoio dos unionistas irlandeses. A noite eleitoral produziu um
novo termo, HUNG, que fez muita gente consultar o Google Tradutor. Mas não me
parece que seja apenas o Parlamento a ficar pendurado. Teremos por certo
negociações do BREXIT que ninguém se teria atrevido a antecipar nos moldes em
que irão ser concretizadas. Pelo que se conhece destes senhores Conservadores,
parece-me que vão querer recuperar nas negociações a perda colossal e humilhante
de deputados a que foram sujeitos. Não sei se os negociadores de Bruxelas terão ficado
muito contentes com estes resultados eleitorais. Para muitos daqueles
personagens a democracia é afinal uma chatice, porque é imprevisível e nem
sempre é controlável.
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