sexta-feira, 9 de junho de 2017

UK: POLARIZADO, DIVIDIDO E DE GOVERNABILIDADE DIFÍCIL




(Confesso que os resultados dos Trabalhistas excederam as minhas previsões de intuição, sobretudo porque não admiti que para além da recuperação face aos Conservadores recuperasse posições na Escócia; mas de certo modo estas eleições, para além de penalizarem a arrogância pretensamente vitoriana, colocam a nu a polarização que a votação do BREXIT já tinha anunciado…)

Face à arrogância de Theresa May, ainda hoje se interrogando como é que foi possível uma noite tão desastrosa, a firmeza de Corbyn colheu frutos. Mas estou convencido que, embora sem estudos de opinião a fundamentar a minha tese, foi a votação do BREXIT a determinar essencialmente o ressurgimento do eleitorado jovem e a rejeição que esse eleitorado mostrou face à gestão política dos Conservadores. Nesse contexto de rejeição, a autenticidade de Corbyn, mesmo que algo dissonante no seu tempo, terá capitalizado esse sentimento de rejeição.

Sabemos que a juventude mais cosmopolita ficou extremamente chocada com os resultados do BREXIT, sobretudo pela antecipação dos efeitos que tal votação poderá determinar na sociedade britânica. Não me admiraria que esse eleitorado desejasse castigar os Conservadores, não esquecendo que o BREXIT é também o resultado da falta de firmeza de Cameron e do seu governo. Afinal, se quisermos ser rigorosos os Conservadores somam num período de tempo relativamente concentrado três erros cruciais: primeiro, a cedência na questão do BREXIT por razões de mero oportunismo político; segundo, uma política macroeconómica austeritária com custos elevados em termos de perda de produto potencial na economia do Reino Unido; terceiro, a arrogância com que May se apresentou junto do eleitorado convencida que ficaria na história por arrasar, erradicando, o Partido Trabalhista.

Polarização, divisão, problemas de governabilidade, atendendo aos custos antecipáveis no apoio dos unionistas irlandeses. A noite eleitoral produziu um novo termo, HUNG, que fez muita gente consultar o Google Tradutor. Mas não me parece que seja apenas o Parlamento a ficar pendurado. Teremos por certo negociações do BREXIT que ninguém se teria atrevido a antecipar nos moldes em que irão ser concretizadas. Pelo que se conhece destes senhores Conservadores, parece-me que vão querer recuperar nas negociações a perda colossal e humilhante de deputados a que foram sujeitos. Não sei se os negociadores de Bruxelas terão ficado muito contentes com estes resultados eleitorais. Para muitos daqueles personagens a democracia é afinal uma chatice, porque é imprevisível e nem sempre é controlável.

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