Passei os olhos pela “elevada discussão” que a partir do Parlamento Europeu
o deputado socialista Manuel dos Santos travou com algumas personagens do PS
Porto e nacional a propósito de umas afirmações “elevadas como sempre” que o deputado
quis proferir sobre a também deputada Luísa Salgueiro, candidata oficialmente
apresentada pelo partido à Câmara de Matosinhos. Devem ser intrinsecamente
graves para António Costa afirmar que tais ideias não honram a herança do PS.
Não vou perder tempo com a questão de saber se as afirmações de Dos Santos são
ou não ofensivas para Luísa Salgueiro, mas imagino a raiz do desmando
manuelino. Não deve estar de acordo com a escolha dos órgãos centrais do
partido e por isso à mínima oportunidade saltou para o Twitter com aquela
elegância de argumentação que se lhe reconhece.
Parece por afirmações anteriores que tenho alguma na manga contra o
deputado Dos Santos. Mas não tenho. Não o conheço pessoalmente, talvez me tenha
cruzado com ele numa das minhas raras aparições pela Federação no Porto. O
deputado Dos Santos teve seguramente no passado algum contributo para a
consolidação da democracia em Portugal e não serei eu que perderei tempo a
desmentir esse contributo. O problema é que os contributos do passado não
ajudam a resolver os desafios do presente e nos últimos tempos, incluindo a
lança em África de conseguir ter chegado ao Parlamento Europeu. Pois, nos
últimos tempos, não se conhece uma única ideia estruturada ao deputado Dos
Santos e, por isso, uma brigazinha no Twitter sobre uma colega deputada é o
melhor filão que se pode oferecer a uma personagem desta natureza.
Claro que o deputado Dos Santos tem todo o direito de criticar
politicamente a sua colega de partido a propósito do enunciado da sua posição quanto
à maneira descuidada como o partido tratou, inicialmente (houve, entretanto,
correção do tiro inicial, usando o Twitter ou qualquer outro meio de comunicação
ou rede social. Mas, gingão como sempre no seu argumentário, preferiu introduzir
no tema uma dimensão entre o brejeiro e o insultuoso, misturando argumentos políticos
com o batismo da deputada Luísa Salgueiro de cigana, invocando que no interior
do PS seria trivial a utilização dessa designação. Estamos todos a compreender
a relevância deste facto para uma eventual discussão política da tomada de
posição da deputada.
Cá para mim, o deputado Dos Santos que já anda nisto há algum tempo, usou o
chiste misógino e racista para provocar os seus adversários e furtar-se assim a uma correta discussão
política do que pretenderia dizer. É uma técnica conhecida e pelos vistos produziu
os resultados pretendidos, pois fiquei sem saber que raio de tomada de posição
teve a deputada Luísa Salgueiro, o que me aborrece pois o meu voto também contribuiu
para a sua eleição e até já acedi em participar num debate público integrado na
animação da sua candidatura.
Se esta for a técnica que o deputado Dos Santos utiliza para se fazer ouvir
no Parlamento Europeu, imagino que a esta altura será já um cromo bem
valorizado na coleção de outros deputados que se arrastam por aquelas cadeiras,
salas e grupos de trabalho. Quando Elisa Ferreira abandonou o Parlamento
Europeu para assumir funções no Banco de Portugal compreendi a decisão ao mais
alto nível, mas custou-me os olhos da cara ver o meu voto nas Europeias acolher
o deputado gingão Dos Santos.
Dos cromos não rezará por certo a história.
Sem comentários:
Enviar um comentário