domingo, 18 de junho de 2017

O CROMO QUE TEM NOME DE TOUREIRO




Passei os olhos pela “elevada discussão” que a partir do Parlamento Europeu o deputado socialista Manuel dos Santos travou com algumas personagens do PS Porto e nacional a propósito de umas afirmações “elevadas como sempre” que o deputado quis proferir sobre a também deputada Luísa Salgueiro, candidata oficialmente apresentada pelo partido à Câmara de Matosinhos. Devem ser intrinsecamente graves para António Costa afirmar que tais ideias não honram a herança do PS. Não vou perder tempo com a questão de saber se as afirmações de Dos Santos são ou não ofensivas para Luísa Salgueiro, mas imagino a raiz do desmando manuelino. Não deve estar de acordo com a escolha dos órgãos centrais do partido e por isso à mínima oportunidade saltou para o Twitter com aquela elegância de argumentação que se lhe reconhece.

Parece por afirmações anteriores que tenho alguma na manga contra o deputado Dos Santos. Mas não tenho. Não o conheço pessoalmente, talvez me tenha cruzado com ele numa das minhas raras aparições pela Federação no Porto. O deputado Dos Santos teve seguramente no passado algum contributo para a consolidação da democracia em Portugal e não serei eu que perderei tempo a desmentir esse contributo. O problema é que os contributos do passado não ajudam a resolver os desafios do presente e nos últimos tempos, incluindo a lança em África de conseguir ter chegado ao Parlamento Europeu. Pois, nos últimos tempos, não se conhece uma única ideia estruturada ao deputado Dos Santos e, por isso, uma brigazinha no Twitter sobre uma colega deputada é o melhor filão que se pode oferecer a uma personagem desta natureza.

Claro que o deputado Dos Santos tem todo o direito de criticar politicamente a sua colega de partido a propósito do enunciado da sua posição quanto à maneira descuidada como o partido tratou, inicialmente (houve, entretanto, correção do tiro inicial, usando o Twitter ou qualquer outro meio de comunicação ou rede social. Mas, gingão como sempre no seu argumentário, preferiu introduzir no tema uma dimensão entre o brejeiro e o insultuoso, misturando argumentos políticos com o batismo da deputada Luísa Salgueiro de cigana, invocando que no interior do PS seria trivial a utilização dessa designação. Estamos todos a compreender a relevância deste facto para uma eventual discussão política da tomada de posição da deputada.

Cá para mim, o deputado Dos Santos que já anda nisto há algum tempo, usou o chiste misógino e racista para provocar os seus adversários e furtar-se assim a uma correta discussão política do que pretenderia dizer. É uma técnica conhecida e pelos vistos produziu os resultados pretendidos, pois fiquei sem saber que raio de tomada de posição teve a deputada Luísa Salgueiro, o que me aborrece pois o meu voto também contribuiu para a sua eleição e até já acedi em participar num debate público integrado na animação da sua candidatura.

Se esta for a técnica que o deputado Dos Santos utiliza para se fazer ouvir no Parlamento Europeu, imagino que a esta altura será já um cromo bem valorizado na coleção de outros deputados que se arrastam por aquelas cadeiras, salas e grupos de trabalho. Quando Elisa Ferreira abandonou o Parlamento Europeu para assumir funções no Banco de Portugal compreendi a decisão ao mais alto nível, mas custou-me os olhos da cara ver o meu voto nas Europeias acolher o deputado gingão Dos Santos.  

Dos cromos não rezará por certo a história.

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