(Os trágicos e
bárbaros acontecimentos de Manchester e Londres ofuscam por razões
compreensíveis um outro debate que as eleições da próxima quinta-feira deveriam
poder refletir e que dificilmente o farão nestas circunstâncias; estou
a referir-me à perigosa combinação de sequelas de Brexit e da orientação
pró-austeridade que o governo de Theresa May insiste em continuar a seguir)
A vitória dos Conservadores na última eleição ganha pela dupla
Cameron-Osborne, entretanto autoafastados na sequência dos resultados do
BREXIT, representou um dos mais impressionantes exemplos de mistificação de
resultados macroeconómicos. Para isso contribuiu a canhestra inabilidade
trabalhista de então, na qual se destacou a graçola do ex-ministro das finanças
trabalhista que comunicou em mensagem ao seu seguidor conservador que os cofres
estavam vazios. Cameron e Osborne ganharam então as eleições de modo
contundente sem nunca terem de responder à pergunta incómoda de saber as razões
de terem prosseguido uma política de austeridade quando a situação
macroeconómica recomendava o contrário e o Reino Unido tinha condições únicas
para o fazer. A opção de Cameron e Osborne era então claramente ideológica. A
redução da despesa pública correspondia, não a um argumento de estabilidade
orçamental, mas antes a um propósito claro de desconstrução da intervenção
pública em várias áreas.
A governação de Theresa May em rota para a negociação do Brexit não tem
sido substancialmente diferente e ainda nestes dias os conservadores vêm
salpicada a sua política orçamental de cortes pelo impacto que eles tiveram na
operacionalidade das forças policiais e de segurança. A sua intervenção
desesperada no sentido de reforçar essa operacionalidade é o melhor indicador
dos problemas criados.
Simon Wren-Lewis na sua coluna do Mainly Macro (link)e presença mediática tem
tido uma persistente ação de denúncia desse erro de conceção da política
macroeconómica conservadora, procurando romper o que pode ser classificado como
uma manta de ocultação dos verdadeiros custos da desproporcionada e
descontextualizada austeridade conservadora. A sua ação converge com a de
alguns economistas fortemente referenciados neste blogue que procuram
desconstruir a ideia de que no longo prazo o crescimento económico é apenas
determinado pela dimensão da força de trabalho, pelo
stock de capital e pela tecnologia, entendida esta sobretudo como um conjunto
de ideias com valor económico. As insuficiências de procura normalmente
associadas a fenómenos de curto prazo podem ter efeito sobre o produto a longo
prazo (ainda ontem falávamos da Lei de Say ao contrário), possibilidade que
altera decisivamente as formulações constantes dos manuais de macroeconomia
mais disseminados pela formação graduada em economia.
A verdade é que se têm sucedido os estudos demonstrando que os choques
fiscais negativos como aqueles que são gerados pelas políticas de austeridade
sistemática e contracíclica podem ter efeitos persistentes na destruição de
produto. Wren-Lewis refere um estudo recente do instituto alemão IMK (link) que
aprofunda trabalhos anteriores de Blanchard e Leigh (link) para o FMI e de
Summers e Fatas (link) no qual a persistência da queda do produto aumenta
significativamente o impacto das políticas de austeridade. Citando: “Em vez de desaparecerem em 2013, estes custos persistem e
crescem com cada operação adicional de consolidação, Em 2016/17, o PIB será
cerca de 4% mais baixo e mais um 1% será adicionado por via da austeridade
adicional programada até 2019/20. Se acumularmos essas perdas, isso leva a que
a família média tenha perdido 13.000 libras até 2016/17, aumentando para 23.000
libras até 3 anos depois”.
Isto explica que o produto potencial do Reino Unido esteja 15% abaixo da
sua tendência passada.
É espantoso como os conservadores conseguem ocultar esta perda
desproporcionada e desnecessária. Sem efeitos do BREXIT, esclareça-se.
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