quarta-feira, 7 de junho de 2017

UMA FRUSTRANTE PEACOCK




(Talvez o público da Suggia não estivesse preparado, não sabendo ao que vinha, talvez Annette não estivesse nas suas melhores noites, talvez a empatia não tivesse emergido, mas que foi uma noite e um concerto desconcertantes lá isso foi …)

Pois imaginei que fosse talvez a única oportunidade de ver e ouvir ao vivo a sonoridade estranha de Annette Peacock na Casa da Música. Preparei-me na medida do possível para o embate com aquela sonoridade, sabendo que a pujança da voz continua lá, apesar dos 70 anos avançados de procura de novos caminhos, mas que a obra de Annette exige maturidade de ouvido. Estava à espera das novas combinações sonoras e da exploração dos sintetizadores e da sua mistura de voz com os mesmos. Mas receio que não estivesse plenamente preparado.

Numa ambiência profundamente intimista, de tons roxos-lilás, a fragilidade de Peacock entrou, tomada pela obscuridade e pelo chapéu e soltou um “obrigada” grave e solene.

Concerto de muito pequena dimensão, com uma desconcertante conclusão. À quinta ou sexta interpretação, a frágil Annette levanta-se deixando que a música continuasse, reproduzida pelo equipamento previamente programado. A sala terá interpretado que a cantora se dirigia aos bastidores para uma pequena pausa. Não. Era mesmo o fim do concerto. A perplexidade da Suggia era tão evidente que nem sequer foi ensaiada a tentativa de a fazer regressar ao palco. Algo frustrante, até porque a voz poderosa está lá, resiliente aos anos. Ficam os discos.

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