(Talvez o público
da Suggia não estivesse preparado, não sabendo ao que vinha, talvez Annette não
estivesse nas suas melhores noites, talvez a empatia não tivesse emergido, mas que foi uma noite e um concerto
desconcertantes lá isso foi …)
Pois imaginei que fosse talvez a única oportunidade de ver e ouvir ao vivo
a sonoridade estranha de Annette Peacock na Casa da Música. Preparei-me na medida
do possível para o embate com aquela sonoridade, sabendo que a pujança da voz
continua lá, apesar dos 70 anos avançados de procura de novos caminhos, mas que
a obra de Annette exige maturidade de ouvido. Estava à espera das novas combinações
sonoras e da exploração dos sintetizadores e da sua mistura de voz com os
mesmos. Mas receio que não estivesse plenamente preparado.
Numa ambiência profundamente intimista, de tons roxos-lilás, a fragilidade
de Peacock entrou, tomada pela obscuridade e pelo chapéu e soltou um “obrigada”
grave e solene.
Concerto de muito pequena dimensão, com uma desconcertante conclusão. À
quinta ou sexta interpretação, a frágil Annette levanta-se deixando que a música
continuasse, reproduzida pelo equipamento previamente programado. A sala terá
interpretado que a cantora se dirigia aos bastidores para uma pequena pausa. Não.
Era mesmo o fim do concerto. A perplexidade da Suggia era tão evidente que nem
sequer foi ensaiada a tentativa de a fazer regressar ao palco. Algo frustrante,
até porque a voz poderosa está lá, resiliente aos anos. Ficam os discos.
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