(O comportamento
do investimento direto estrangeiro pós crise de 2007-2008 constitui um
indicador robusto dos rumos de aprofundamento da globalização. A evidência de que os fluxos in e out desse IDE estejam praticamente estabilizados segundo dados do
World Investment Report 2017 da UNCTAD diz-nos bastante sobre o estado da arte
da globalização …)
O sempre atento Tim Taylor do Conversable
Economist (link aqui)alerta-nos para a publicação do World Investment Report que a UNCTAD publica anualmente e é uma boa
oportunidade para refletir sobre o estado de uma variável da economia global de
que Portugal está tão carenciado.
Os manuais de registo do FMI de operações de capital considera como IDE
qualquer fluxo de capital que assegure o controlo da gestão de uma dada empresa
ou sociedade no país de destino. Nos meus tempos de estudante de economia a
percentagem de detenção de capital que se considerava suficiente para assegurar
esse controlo diferenciador era de 25%, mas hoje essa percentagem desceu para
10%. De qualquer modo, a característica diferenciadora é a compra de ativos
assegurar o controlo de gestão, em contraponto dos investimentos financeiros
que são puras operações financeiras de compra de títulos. Para um dado país,
IDE in
é o que investidores internacionais realizam no país e IDE out o que os investidores
nacionais realizam noutros países.
Pois se quisermos medir o pulso à globalização através do IDE, a conclusão
a que chegamos é que, depois da queda observada após a crise de 2007-2008, o
mundo ainda não conseguiu atingir os fluxos anteriormente observados (antes de
2007). O que parece querer dizer algo acerca da globalização. Recuperação sim,
mas uma tendência para mar plano nos últimos tempos, denotando talvez a
existência de fatores adversos a um recrudescimento mais intenso dos fluxos de
entrada e de saída do IDE. Do ponto de vista do que isso representa para
Portugal, isso quer dizer que é mais difícil competir com fluxos estabilizados do
que com fluxos crescentes. E os mais avisados consideram que a economia
portuguesa, para potenciar o avanço modernizador de investimento nacional
precisaria de um efeito estruturante decisivo a partir do IDE, portador de
tecnologia e capacidade de gestão superior a esses sinais de modernidade
nacional. Como sabemos, os principais grupos portugueses, ou desapareceram do
mapa afogados na ilusão das empresas globais a partir de Portugal (PT
principalmente), ou estão ainda a recuperar da ilusão do ganho fácil dos não
transacionáveis e rendas associadas. O tecido de PME nacional necessita desse
efeito estruturante que o só o IDE de elite consegue assegurar.
É verdade que as economias em desenvolvimento tiveram uma queda de IDE
entrado menos significativa do que a operada no mundo desenvolvido, experimentando
em contrapartida um recuo em 2015 não observado no mundo desenvolvido. Isso
significou que o comportamento dos fluxos de IDE para o mundo em
desenvolvimento não foi suficiente para colocar o IDE global acima dos valores
mais elevados de antes da crise financeira global.
A estabilidade no universo dos acolhedores e emissores de IDE é bastante
apreciável, sobretudo no conjunto dos 20 países com fluxos mais significativos.
A única novidade, anunciada, nas tendências mais recentes é o crescente
protagonismo das multinacionais tecnológicas no grupo das multinacionais
responsáveis pelos principais fluxos de entrada e saída de IDE. É essa
tendência que faz da Irlanda algo de dificilmente replicável.
Quando o World Investment Report 2017 analisa os fatores que podem
condicionar a evolução dos fluxos de IDE no futuro próximo, caímos na real e
apercebemo-nos de que estamos a lidar com trends que dificilmente poderemos
influenciar decisivamente (ver gráfico acima).
Valha-nos que, quando isolamos os três fatores mais importantes, se
confirma que a disponibilidade de mão-de-obra qualificada, sobretudo
identificada com o mundo da economia digital, é o terceiro fator empresarial e
externo mais representativo. Esse é um fator que podemos influenciar, não só
formando maios e melhor, mas sobretudo atraindo jovens estrangeiros
qualificados. Como é óbvio, nunca aspirando a um efeito de massa, pois um
concorrente asiático qualquer terá sempre condições de nos
fazer engolir essa pretensão.
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