terça-feira, 20 de junho de 2017

NADA DE NOVO NA FRENTE DO IDE




(O comportamento do investimento direto estrangeiro pós crise de 2007-2008 constitui um indicador robusto dos rumos de aprofundamento da globalização. A evidência de que os fluxos in e out desse IDE estejam praticamente estabilizados segundo dados do World Investment Report 2017 da UNCTAD diz-nos bastante sobre o estado da arte da globalização …)

O sempre atento Tim Taylor do Conversable Economist (link aqui)alerta-nos para a publicação do World Investment Report que a UNCTAD publica anualmente e é uma boa oportunidade para refletir sobre o estado de uma variável da economia global de que Portugal está tão carenciado.

Os manuais de registo do FMI de operações de capital considera como IDE qualquer fluxo de capital que assegure o controlo da gestão de uma dada empresa ou sociedade no país de destino. Nos meus tempos de estudante de economia a percentagem de detenção de capital que se considerava suficiente para assegurar esse controlo diferenciador era de 25%, mas hoje essa percentagem desceu para 10%. De qualquer modo, a característica diferenciadora é a compra de ativos assegurar o controlo de gestão, em contraponto dos investimentos financeiros que são puras operações financeiras de compra de títulos. Para um dado país, IDE in é o que investidores internacionais realizam no país e IDE out o que os investidores nacionais realizam noutros países.

Pois se quisermos medir o pulso à globalização através do IDE, a conclusão a que chegamos é que, depois da queda observada após a crise de 2007-2008, o mundo ainda não conseguiu atingir os fluxos anteriormente observados (antes de 2007). O que parece querer dizer algo acerca da globalização. Recuperação sim, mas uma tendência para mar plano nos últimos tempos, denotando talvez a existência de fatores adversos a um recrudescimento mais intenso dos fluxos de entrada e de saída do IDE. Do ponto de vista do que isso representa para Portugal, isso quer dizer que é mais difícil competir com fluxos estabilizados do que com fluxos crescentes. E os mais avisados consideram que a economia portuguesa, para potenciar o avanço modernizador de investimento nacional precisaria de um efeito estruturante decisivo a partir do IDE, portador de tecnologia e capacidade de gestão superior a esses sinais de modernidade nacional. Como sabemos, os principais grupos portugueses, ou desapareceram do mapa afogados na ilusão das empresas globais a partir de Portugal (PT principalmente), ou estão ainda a recuperar da ilusão do ganho fácil dos não transacionáveis e rendas associadas. O tecido de PME nacional necessita desse efeito estruturante que o só o IDE de elite consegue assegurar.

É verdade que as economias em desenvolvimento tiveram uma queda de IDE entrado menos significativa do que a operada no mundo desenvolvido, experimentando em contrapartida um recuo em 2015 não observado no mundo desenvolvido. Isso significou que o comportamento dos fluxos de IDE para o mundo em desenvolvimento não foi suficiente para colocar o IDE global acima dos valores mais elevados de antes da crise financeira global.


A estabilidade no universo dos acolhedores e emissores de IDE é bastante apreciável, sobretudo no conjunto dos 20 países com fluxos mais significativos. A única novidade, anunciada, nas tendências mais recentes é o crescente protagonismo das multinacionais tecnológicas no grupo das multinacionais responsáveis pelos principais fluxos de entrada e saída de IDE. É essa tendência que faz da Irlanda algo de dificilmente replicável.

Quando o World Investment Report 2017 analisa os fatores que podem condicionar a evolução dos fluxos de IDE no futuro próximo, caímos na real e apercebemo-nos de que estamos a lidar com trends que dificilmente poderemos influenciar decisivamente (ver gráfico acima).

Valha-nos que, quando isolamos os três fatores mais importantes, se confirma que a disponibilidade de mão-de-obra qualificada, sobretudo identificada com o mundo da economia digital, é o terceiro fator empresarial e externo mais representativo. Esse é um fator que podemos influenciar, não só formando maios e melhor, mas sobretudo atraindo jovens estrangeiros qualificados. Como é óbvio, nunca aspirando a um efeito de massa, pois um concorrente asiático qualquer terá sempre condições de nos fazer engolir essa pretensão.

Sem comentários:

Enviar um comentário