(Lawrence Summers, link)
(Estamos em tempo
de reconsideração da política monetária e como sempre os americanos vão na
frente do debate, embora se espere que, com a desconjuntada e perigosa administração
Trump, a substituição de Janet Yellen à frente do FED quando em 2018 acabar o
seu mandato, possa trazer elementos
estranhos ao debate sério que o tema exige…)
Há dias fiz eco neste espaço de um texto assinado por um representativo conjunto
de economistas americanos propondo que o FED reveja a sua meta tradicional de 2%
para a taxa de inflação, fixando um valor de referência para a taxa de inflação
mais elevado. A razão da proposta consiste essencialmente em aumentar a margem
de manobra do Banco Central para combater uma futura recessão, dada a situação
vivida em termos de taxa de juro de curto prazo (o chamado zero lower bound) e a disseminação de cada vez mais artigos que apontam
para uma descida estrutural da taxa de real de juro de equilíbrio.
O debate é rijo e terá que explorar outras dimensões do problema. Como
seria de esperar, a partir do momento em que não assinou o documento acima
referido, o contributo de Lawrence Summers para o debate teria de aparecer. Da
sua posição foi dado um lamiré no seu blogue praticamente mensal no Financial
Times, o qual vem trazer ao documento em questão novos cambiantes de discussão.
É conhecida a posição de Summers em relação ao controlo do mandato do FED através
da chamada curva de Philips, a célebre curva que estabelece uma relação entre a
evolução dos preços (salários) e da taxa de desemprego, bem como o seu
ceticismo relativamente ao cálculo da também célebre NAIRU (a taxa de
desemprego não aceleradora da inflação ou por vezes imperfeitamente designada
de taxa de desemprego de equilíbrio).
Summers tem uma expressão intrigante (link)para o paradigma de política monetária
que propõe em alternativa à utilização da problemática curva de Philips: “a shoot only when you see the whites of the
eyes of inflation”. A expressão vem da Revolução Americana e consistia numa
ordem militar de disparar só em determinadas condições, the whites of their eyes. A contenção de Summers explica-se pelo
facto de ser sempre mais fácil corrigir o tiro de uma inflação que está em alta
do que intervir precipitadamente e provocar uma recessão escusada e desproporcionada.
As evidências jogam a favor de Summers: a inflação evolui regra geral de forma lenta
pelo que é sempre mais fácil corrigir o tiro de uma intervenção ligeiramente
tardia.
O que parece indiscutível para Summers é que o confronto das previsões do
FED com as expectativas expressas pelo mercado evidencia um desencontro notório.
Pode, assim, dizer-se que o FED está em parte desacreditado pelas suas previsões.
A aceleração da inflação não é vista como uma ameaça pelas expectativas dos
mercados. Para além disso, o respeito escrupuloso pela regra dos 2% colocaria o
produto potencial bem acima do valor em que afinal se encontra hoje o produto
da economia americana. E, argumento que me parece o mais promissor, o efeito
estímulo de uma dada descida da taxa de juro tenderá a ser provavelmente cada
vez mais baixo, dado o contexto de estagnação secular pelo qual Summers tanto
porfia.
Por isso, é com curiosidade que esperaremos pelos desenvolvimentos que
Summers promete apresentar brevemente. Para já, sabemos que considera a elevação
da taxa de inflação de referência não a melhor solução, sugerindo que melhor
seria por exemplo trabalhar com uma meta de referência para o crescimento económico.
Veremos que novos desenvolvimentos virão a debate.
Sem comentários:
Enviar um comentário